Juros altos e déficit: Mídia protege os bancos para enganar o povo

Em recente estudo divulgado pelo CEPR (Center for Economic and Policy Research), respeitado instituto de pesquisa econômica nos EUA, o Brasil pagou em 2016 o equivalente a 7,6% do PIB em juros da dívida pública. Para se ter uma ideia, isso coloca o país como o quarto maior encargo dentre 183 pesquisados, ficando atrás apenas do Líbano, Gâmbia e Iêmen.

Por Augusto Vasconcelos*

Augusto Vasconcelos

A grande mídia se especializou nos últimos anos em criar um enredo para justificar as altas taxas de juros, com o pseudo argumento do combate à inflação e manutenção da estabilidade econômica. Tal discurso, sustentado de maneira cínica, por figuras como Miriam Leitão, Sardenberg, Willian Wack, dentre outros, visa blindar os fortes interesses que estão por trás dos patrocínios vultosos pagos pelos bancos nos intervalos dos telejornais.

Tentam justificar que a taxa de juros somente vai cair se houver redução do déficit orçamentário, quando na verdade, o crescimento do déficit decorreu exatamente da elevação dos juros nos últimos anos. Como a maior parte da dívida pública é indexada à taxa SELIC, a cada elevação dos juros aumenta ainda mais a dívida, em uma espiral recessiva que retira quase a metade do Orçamento da União para gerar superávit primário.

Assim, quando o governo Temer joga a culpa pela recessão no suposto rombo da Previdência, o que se quer é esconder os compromissos com o sistema financeiro, mantendo intactos os benefícios e altos lucros dos bancos, que abocanham a maior parte dos títulos da dívida pública. Enquanto isso, o trabalhador vê cada vez mais distante o sonho de se aposentar.

O Brasil tem 360 bilhões de dólares em reservas internacionais, o equivalente a dois anos de importações. Ou seja não há qualquer justificativa para termos uma das maiores taxas reais de juros do planeta.

Enquanto tenta fazer uma lavagem cerebral no povo, a mídia faz o jogo do governo, colocando como alvo o desmonte das políticas sociais e o corte de direitos. Tais medidas, ao contrário, diminuirão a riqueza circulante na economia, reduzindo a capacidade das famílias consumirem, consequentemente detonando empregos e a produção.

Trata-se de uma bomba relógio! Entender este jogo é fundamental para definirmos de que lado estamos na disputa de rumos do país.

*Augusto Vasconcelos, Presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, advogado, professor universitário, Mestre em Políticas Sociais e Cidadania (UCSAL), Especialista em Direito do Estado (UFBA)