Campeão de deficit, Temer agora diz que equilibrar contas levará anos

Responsável pelo maior rombo fiscal da história do país, Michel Temer (PSDB) disse nesta segunda (8) que a cultura política brasileira está “acostumada” a produzir deficit e é preciso “se incomodar” com isso. Há quase um ano, o peemedebista assumiu o governo prometendo salvar a economia a partir da melhora da situação fiscal. Mas, sob seu comando, o país encerrou 2016 com um deficit de R$ 154 bilhões, o pior já registrado. Agora, ele já admite que será preciso muitos anos para reverter o rombo.

michel temer - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Tivemos ano passado deficit de R$ 170 bilhões. Hoje temos um deficit de R$ 139 bilhões. Enfatizo o termo bilhões para condená-lo, porque nossos ouvidos, na cultura política nacional, se acostumaram a bilhões de deficit como se fosse a coisa mais natural do mundo”, disse Temer, durante abertura do 3º Encontro Nacional de Chefes de Agências do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar de o presidente e seus aliados terem utilizado o argumento de que os governos do PT promoveram uma gastança, prejudicando as contas públicas, durante o período em que a sigla esteve no poder, apenas em 2014 e 2015 houve deficit fiscal. Mesmo assim, os números são bem menos graves que aos praticados na atual gestão. Em 2014, o rombo foi de R$ 17,2 bilhões e, em 2015 – ano marcado pela crise política que paralisou o país –, houve deficit de R$ 115 bilhões.

Durante o processo de impeachment, aqueles que desejavam derrubar a presidenta Dilma Rousseff repetiam que a troca de governo seria o remédio para a recessão. Com dificuldades de sustentar o discurso de que num passe de mágica os cofres públicos voltariam a ter saldo positivo, salvando assim a economia, Temer agora já admite que o equilíbrio fiscal não virá da noite para o dia, como prometido por ele. Ao contrário, poderá demorar 10 anos para chegar, ele já diz.

“É como se na nossa casa tivéssemos bilhões em prejuízos e não nos incomodássemos. O Brasil é nossa casa e devemos nos incomodar. O combate ao deficit público é o que faz com que tenhamos tranquilidade absoluta. Agora, registro, não se combate deficit com um ou dois exercícios. É preciso muitos exercícios financeiros. Quem sabe em dez anos possamos fazer uma revisão em que só se gasta aquilo que se arrecada. Por isso que o prazo há de ser longo”, analisou, nesta segunda.

O presidente voltou a tentar colocar a culpa do atual deficit na gestão petista e a defender a importância da emenda que limita o crescimento dos gastos públicos. “Constatamos um deficit brutal a ser corrigido. Por isso fizemos uma emenda constitucional estabelecedora do teto para os gastos públicos. Nós fizemos por um período de 20 anos, revisável este teto somente após 10 anos”, disse ele.

Temer, que tenta aprovar reformas impopulares que tiram direitos do povo e atacam garantias constitucionais, disse que o que prejudica a vida de muitos trabalhadores é o deficit fiscal dos estados.

Ele voltou a defender a reforma da Previdência, argumentando que, felizmente, a população brasileira está vivendo mais e por isso a mudança previdenciária é “inadiável”. O texto-base da reforma da Previdência, que dificulta o acesso ao benefício e pode inviabilizar a aposentadoria de grande parte da população, foi aprovado na semana passada na comissão especial da Câmara dos Deputados. O governo, contudo, admite que, neste momento, não tem os 308 votos necessários para aprovar a medida no plenário da Casa.

No seu discurso, Temer afirmou que o país tem conseguido controlar “o fenômeno inflacionário”. E, ignorando o real estado da economia brasileira – que possui hoje mais de 14 milhões de desempregados – declarou: “Economia livre da inflação, geradora de empregos. Com a graça de Deus, nós conseguimos reduzir o fenômeno inflacionário de 10,7% para hoje 4,55%, a indicar que, logo no final do ano, nós estaremos em torno de 4% de inflação, portanto, abaixo da meta do centro da inflação”.