Sousa Jr: Em tempos de jornalismo de guerra, há ainda quem está na paz

“No Ceará, três programas de rádio diários (segunda a sexta) também sobrevivem quase sem apoio e, apesar disso, fazem o bom combate da mídia alternativa por iniciativa individual ou de poucos militantes de esquerda: o Saúde em Dia, na Rádio Assunção AM, do médico e militante Arruda Bastos; o Espaço Aberto, na Rádio Cidade AM, apresentado pelo radialista Carlos Ponte; e o Democracia no Ar, veiculado na web rádio Atitude Popular”.

Por *Sousa Júnior

Web Rádio Atitude Popular

A denúncia que Lula fez em seu depoimento a Moro contra a Globo por esta ter dedicado em um ano mais de 18 horas de seu Jornal Nacional contra ele e, agora, a da Dilma, a propósito do pedido de sua prisão feito pelo jornalista (?) Merval Pereira em artigo publicado no último sábado, 13, colocam na ordem do dia o debate, mais uma vez, sobre como e porque o movimento sindical deve se contrapor a esse “jornalismo de guerra”.

É bem verdade que há valorosas iniciativas de muitos comunicadores e de uma pequena parte da esquerda que enfrenta heroicamente esse debate na prática, e não apenas na teoria. Cito alguns deles que têm visibilidade nacional, como Conversa Afiada, Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Portal Vermelho, GGN, Viomundo, Brasil 247, Mídia Ninja etc.

Mas essa mídia alternativa não conta com o apoio, como deveria, do movimento sindical, que representa legitimamente os trabalhadores, justamente os que mais precisam de uma comunicação independente que defenda seus interesses e possa se contrapor ao “jornalismo de guerra” mencionado por Dilma Rousseff, guerra não só contra ela e Lula, mas contra todo o povo brasileiro e o Brasil.

Recentemente o humorista Benvindo Sequeira fez um dramático apelo solicitando contribuições individuais para manter o Barão de Itararé, “com qualquer valor“, apesar de várias entidades sindicais e diversas centrais figurarem como “amigos do Barão” no site da entidade. Mesmo “a Globo da Internet” como Paulo Henrique Amorim ironicamente intitula seu Conversa Afiada, não pelo conteúdo, claro, mas pela audiência, sempre apela para assinarem seu canal de YouTube “porque, afinal, quem trabalha de graça é relógio e quem recebe grana gorda da SECOM é a Globo!”, afirma ele em seu blog.

No Ceará, três programas de rádio diários (segunda a sexta) também sobrevivem quase sem apoio e, apesar disso, fazem o bom combate da mídia alternativa por iniciativa individual ou de poucos militantes de esquerda: o Saúde em Dia, na Rádio Assunção AM, do médico e militante Arruda Bastos; o Espaço Aberto, na Rádio Cidade AM, apresentado pelo radialista Carlos Ponte; e o Democracia no Ar, veiculado na web rádio Atitude Popular, retransmitido por outras emissoras e pela página da Democracia Participativa no Facebook, este último prestes a sair do ar (infeliz trocadilho) se apenas quatro entidades continuarem o apoiando, como ocorre atualmente.

Enquanto isso, milhares de sindicatos, salvo exceções como em São Paulo, onde há a Rede Brasil Atual e a TVT mantidas por sindicatos, limitam-se a imprimir informativos que não alcançam 10% da categoria e a manter sites e mídias sociais que sequer são atualizados diariamente e, mesmo assim, pouco dialogam com a sociedade, restringindo-se a abordar questões pontuais ou específicas de cada categoria. A realidade é que na guerra da comunicação atual a maioria dos representantes dos trabalhadores ainda age como se estivéssemos em tempos de paz e assim continuando os sindicatos terão de fato a paz – dos cemitérios.


*Sousa Júnior é publicitário e integra a equipe que produz o programa Democracia no Ar

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