Publicado 23/05/2017 18:59
Mesmo com a entrada e saída constante de autoridades dos gabinetes do Palácio do Planalto para discutir as próximas estratégias de defesa do presidente Michel Temer para se manter no cargo, e das investidas feitas junto ao Congresso para garantir apoio da base, o governo sofreu nova derrota nesta terça-feira (23). Diante do ambiente de tensão, a sessão conjunta do Congresso Nacional que iria discutir e votar 17 vetos presidenciais foi cancelada.
O que se diz nos corredores do Senado é que a equipe de Temer sofreu o impacto da fala do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), durante a manhã. Ferraço declarou oficialmente que sua posição é de rompimento dos tucanos com o governo.
Na noite de ontem, ministros e assessores mais próximos de Temer consideravam controlada a relação com as bancadas do PSDB e do DEM, que teriam se comprometido a só tomar posição a respeito de deixar a base aliada depois da votação da cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E procuraram passar um tom otimista com o argumento de que, se conseguirem manter deputados e senadores dessas duas siglas, conseguirão manter os outros partidos.
Ferraço, que é relator da proposta de reforma trabalhista, adotou nesta terça-feira uma postura de “morde e assopra”: ao mesmo tempo em que trabalhou pela manutenção do curso das reformas, chegou no Senado criticando o presidente. O senador recuou em sua decisão, tomada na última semana, de suspender a tramitação da proposta e deu andamento aos trabalhos. Mas não segurou as palavras. Segundo ele, o PSDB precisa “dar continuidade à reforma e ajudar a estabilizar o país, mas isto não significa que deva ficar no governo”.
Para muitos, sua fala foi um recado, para substituir declaração mais enfática de algum líder tucano, enquanto se mantém o “pacto” feito pelo partido de aguardar a decisão do TSE. E, dessa forma, evitar maiores constrangimentos para o PSDB – já desgastado com as gravações que incriminam o senador suspenso de suas atribuições e ex-candidato presidencial Aécio Neves. “Sei que o tema ainda não é consenso dentro do meu partido, mas não vejo outra saída a não ser entregarmos todos os ministérios, diante da gravidade da crise. Até porque o compromisso da gente não pode ser com um ou outro governante de plantão, mas com a sociedade”, afirmou.
Enquanto a fala de Ricardo Ferraço esquentou provocou mal-estar no líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), as conversas de bastidores são de que a divisão entre as bancadas como um todo tomou mais corpo. O que já tinha começado a ser observado com a visita de surpresa que Temer fez, ontem, à casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante reunião com vários deputados.
Presença inoportuna
“O clima foi de constrangimento. A gente queria ponderar no encontro se quer ficar ou sair do governo, conversar com Maia sobre a situação que encontramos nos nossos estados durante o final de semana. Não era o momento de o presidente chegar, nem lugar para ele estar. Foi inoportuno, para dizer o mínimo, e demonstrou insegurança. Uma tremenda bola fora da assessoria de Temer”, contou um deputado do PRB que estava no encontro.
Como se não bastasse a declaração de Ferraço, há pouco o deputado João Gualberto (PSDB- BA), autor de um dos pedidos de impeachment, defendeu que seja dado ao presidente da República tratamento igual ao que foi dado à ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. “O crime que possivelmente Temer cometeu cabe a convocação de um processo de impeachment Está tudo muito claro, não se pode esperar”, disse.
Na última sexta-feira, o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), do partido de Temer rompeu o silêncio e afirmou que “o presidente deve explicações ao país”. Também o senador Cristóvam Buarque (PPS-DF), que apesar do desembarque do PPS vem mantendo defesa da continuidade das votações das reformas, disse no sábado, após o segundo pronunciamento do presidente, que Temer deveria “ter a humildade de reconhecer para os brasileiros que errou”.