PSDB tenta encabeçar chapa pós-Temer e cria tensão na base golpista

O golpe continua a produzir efeitos deletérios. Desde 2014, inconformados com a derrota nas urnas, a direita se reagrupou em torno de um interesse comum, apostando no discurso de ódio e de suposto “combate à corrupção”. A base do governo tem poucas convergências e muitas divergências. Com a crise instaurada no governo Michel Temer, após as revelações da conversa com Joesley Bastista, da JBS, a disputa sem consenso é quem deve assumir, já que Temer já é considerado carta fora do baralho.

Tasso Jereissati

Temer não caiu ainda justamente porque não há consenso e ninguém quer largar o osso. Comandante da polarização e da judicialização da política, o PSDB tenta lançar nos bastidores a candidatura do senador Tasso Jereissati (CE) à Presidência da República na hipótese de uma eleição indireta. Segundo o Estadão, “a decisão provocou mal-estar com o DEM, irritou o PMDB e já é questionada até por tucanos”.

Autor da ação que tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pede a cassação da chapa que venceu nas urnas, o PSDB manda o recado de que é pai do golpe e quer o quinhão que lhe cabe nessa trama.

Já os aliados, que se uniram por conta da conjuntura, avaliam que o tucano, que preside interinamente a legenda após o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG), articula o seu nome para ocupar o lugar de Temer no golpe sem ter o aval dos demais membros do consórcio.

Correndo por fora, Tasso reuniu, na terça-feira (23), a cúpula paulista tucana: o governador Geraldo Alckmin, o prefeito João Doria e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para discutir o assunto. No dia seguinte, Alckmin disse à imprensa que Tasso e FHC “são os grandes nomes” em uma eleição indireta.

O primeiro a chiar foi o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), que telefonou para Tasso e deve ter reclamado por não ter sido informado antes e disse que tal proposta exigia um esforço de entendimento entre as legendas. Tasso teria dito que não era candidato, mas já era tarde pois o estrago já estava feito.

Entre os peemedebistas a grita foi maior. De acordo com o Estadão, alguns chegaram até a dizer que apoiarão a bandeira das eleições diretas se os tucanos não recuarem.

O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), da tropa de choque do governo, disse: “Não deixa de ser uma opção apoiar as diretas, mas prefiro acreditar que o PSDB não está fazendo articulação de nome para a eleição indireta. Eu e a velhinha de Taubaté acreditamos nisso”.

A cutucada foi apenas para provocar os tucanos. Marun disse que, dependendo da movimentação dos aliados, o PMDB de Temer poderá lançar um candidato próprio se o PSDB insistir em se movimentar sozinho.

Para demonstrar que não é o PSDB quem manda, Marun disse que Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, “ganhou pontos” com a base. “Maia tem mantido uma postura de absoluta lealdade. Além de ser muito discreto, tem promovido ações positivas”, disse Marun, voltando a criticar a tentativa tucana de impor um nome para uma eventual eleição indireta.

Nem mesmo entre os tucanos há consenso em torno do nome de Tasso. O vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, crítico do grupo que comanda a legenda liderada por Aécio, disse que “o PSDB tem 10% do Colégio Eleitoral. Ou seja: a chance é pequena. O mais aconselhável é liderar as reformas e se preparar para a eleição de 2018”.