House of Cards, retrato da selvageria capitalista estadunidense

Em House of Cards o político é um animal selvagem envolto em códigos sociais e ternos caros. Suas tramas se identificam com a política brasileira e o Twitter oficial da série chegou a brincar com esta comparação.

Por Carolina Maria Ruy*

House Of Cards - Divulgação

A série, cuja nova temporada estreou na última terça feira (30), ironiza a democracia jogando em nossa cara que Frank, ele mesmo, chegou à presidência dos EUA sem ter recebido nenhum voto em seu nome. Qualquer semelhança é mera coincidência.

Mais sombria e vampiresca que as temporadas anteriores, a quinta fase da empreitada dos Underwoods no topo do poder força a mão na inverossimilhança ao apostar na chapa Frank e Claire, a primeira dama candidata à vice. Mas, para quem é fã da série e já está fisgado, o que vale é saber como eles irão driblar o jovem republicano, com sua família plástica, para atravessar as eleições e se perpetuar em suas posições, conquistadas com muito sangue e poucos sentimentos.

Charmosos e sedutores, o casal é esperto, obstinado, tem traços fortes de psicose e, por outro lado, é cordial e diplomático. Não amamos odiá-los. Aprendemos e amamos aceita-los, em uma vertiginosa ilusão de que sua ardilosidade é a essência da alma definida por Thomas Hobbes: o homem é o lobo do homem.

Neste ponto é interessante comparar House of Cards à nova produção da Netflix, Designated Survivor. Nela o presidente, que assume acidentalmente a frente dos EUA, é um herói resignado, com uma família resignada, um Jack Bauer (24 horas) redimido e a serviço do povo norte americano. Thomas "Tom" Kirkman, o resignado presidente sem partido, é o avesso do frio, calculista e ambicioso Frank Underwood. Mas aí eu me pergunto: qual deles é mais divertido? Com qual deles identificamos nossos políticos?

A certa altura o frio Frank afirma que o povo é um bebê que não sabe o que quer e precisa ser cuidado. Vindo dele isso é muito pior que uma visão paternalista da sociedade. Ele não é um caudilho. Longe disso. Ele apenas tem desprezo pela massa e age guiado por sua própria interpretação sobre a lei do mais forte, em um sistema essencialmente selvagem, como é o capitalismo estadunidense.