De olho em 2018, tucanos mandam às favas os escrúpulos

Lançado em 25 de junho de 1988, o manifesto que deu origem a fundação do PSDB – partido resultado de um grupo de dissidentes do PMDB, dizia: “Longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas, nasce o novo partido”. Atualmente, as ruas pedem Fora Temer e eleições gerais. Os tucanos, por suas vez, como há muito tempo, ignoraram às ruas.

Por Dayane Santos

PSDB - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O que estava previsto aconteceu. O PSDB, fiador do golpe contra o mandato de Dilma Rousseff, decidiu após reunião da executiva nacional, nesta segunda-feira (12), permanecer no governo de Michel Temer. De olho nas eleições de 2018, a decisão teve como principal avalista o governador de São Paulo Geraldo Alckmin.

No ano passado, o discurso dos tucanos era de "combate à corrupção" e justificavam o golpe por considerar que Dilma não tinha mais condições de governar. Um ano e meio depois, os mesmo tucanos adotam um discurso contraditório de que não podem desembarcar agora do governo, sob o argumento de que um eventual rompimento com Temer poderia prejudicar a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista.

Por traz dos discurso das reformas, está uma articulação para garantir a salvaguarda de Aécio Neve, implicado com investigações na Operação Lava Jato, o apoio do PMDB ao candidato tucano em 2018 e as reformas, já que a agenda neoliberal de retirada de direitos.

Os planos não saíram como os tucanos planejavam. Fizeram uma verdadeira devassa nas vida de Lula e grampearam a presidenta da República, divulgando o conteúdo para a mídia na tentativa de . criar o "crime perfeito" com conversas que tratassem de propina e dinheiro em mala. Mas essa versão da história – ainda que pese a devida apuração – foi contada por aqueles que bradavam contra a corrupção, a moralidade e os bons costumes.

Agora, em meio a esse emaranhando de escândalos, com um governo com forte rejeição popular e investigado pela Procuradoria-Geral da República, os tucanos seguem a celebre frase do então ministro do Trabalho e da Previdência Social Jarbas Passarinho, durante a reunião do AI-5, em 1968: "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência".

O primeiro a falar após a reunião foi o ex-ministro das Relações Exteriores de Temer, o senador José Serra (SP). Disse em entrevista à imprensa que os tucanos decidiram se manter na base aliada até que novos fatos surjam. Mais?!

"O PSDB não fará nenhum movimento agora no sentido de sair do governo. Se os fatos mudarem, terão outras análises', declarou. "É um governo que tocou adiante compromissos que assumiu conosco. Isso é visto como algo positivo", acrescentou.

A legenda, que antes tinha três pretensos candidatos – Aécio Neves (MG), José Serra (SP e Geraldo Alckmin (SP) -, agora tem Alckmin reinando absoluto e dando as cartas. Temer pediu e teve o seu seu apoio. em troca prometeu o apoio da legenda em 2018. Pronto.

Na reunião, a cúpula decidiu e impôs o entendimento de que, enquanto as reformas estiverem tramitando no Congresso Nacional, o PSDB deve continuar ao lado de Temer. apesar disso, tucanos também decidiram que vão recorrer à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que rejeitou o pedido de cassação feito pela legenda após a derrota nas urnas, em 2014.

Aécio não compareceu, mas seus interlocutores trabalharam para garantir o acordo, ou seja, que o PSDB permanecesse no governo. a preocupação de Aécio, segundo fontes, era de que se os tucanos rompessem com Temer agora, o PMDB, que detém uma das maiores bancadas no Congresso Nacional, trabalhará a favor da cassação do mandato do senador mineiro no Conselho de Ética do Senado.

Durante a reunião, Alckmin não escondeu o jogo. Afirmou que o PSDB deveria "observar" o cenário político até a conclusão da votação das reformas. Na linha de acalmar os ânimos, propôs antecipar a eleição para escolher novos membros da executiva nacional, entre eles, o substituto definitivo do senador afastado Aécio Neves (MG).

A estratégia é tentar tirar Aécio de cena, já que está com o filme queimado, e "renovar" a imagem para as eleições de 2018, caso contrário, terão nova derrota nas urnas. Pelo jeito, as urnas serão novamente implacáveis.