Publicado 14/06/2017 19:10
Anita Pallenberg, encarnação do espírito iconoclasta dos anos sessenta e musa dos Rolling Stones, morreu terça-feira em Londres. Tinha 73 anos e uma saúde frágil, com sequelas de uma hepatite C e sérios problemas de quadril. Não foram divulgadas as causas exatas de sua morte, anunciada por sua amiga Stella Schnabel.
Permitam-me fazer uma lembrança. Em 1969, estreou na Espanha O Tirano da Aldeia (Michael Kohlhaas – Der Rebell), um filme do cineasta alemão Volker Schlöndorff sobre o lendário insurgente medieval Michael Kohlhaas, do qual participava Anita. Correu o boato de que Keith Richards aparecia como extra, por isso fomos em massa ver o filme (afinal, em pleno franquismo, era inconcebível que os Rolling Stones tocassem na Espanha). Fomos vê-lo várias vezes. E ficamos apaixonados por Anita Pallenberg.
Mas, de fato, foi em terras valencianas, a caminho de Tanger, no Marrocos, que Keith Richards e Anita tiveram um caso. Dali a pouco tempo, ela largou seu namorado oficial, o também rolling stone Brian Jones, que tinha se revelado um abusador. Essa troca de namorado nos fez ver que o universo daquela banda se movia por leis próprias. Não existia o conceito de infidelidade: no mesmo livro, Richards se queixa de que Anita flertou com Mick Jagger durante a filmagem de Performance, algo que ela sempre negou.
Anita foi uma daquelas criaturas hedonistas que tomaram de assalto os anos sessenta. Exibia seu multiculturalismo: nascida em Roma de pais alemães, falava quatro idiomas e passou por diferentes instituições de ensino. Mas se tornou independente após conhecer a dolce vita e o círculo nova-iorquino de Andy Warhol. O que, exatamente, fazia Ana? Trabalhava como modelo, teve pequenos papéis em filmes de Roger Vadim e Marco Ferreri, além de uma breve passagem pela companhia teatral Off Broadway Living Theatre. Vivia intensamente.
Quando ela chegou, os Rolling Stones eram um projeto em construção, que seguia ativamente o caminho dos Beatles e tentava assimilar os ensinamentos de Bob Dylan. Anita ajudou a dar-lhes sofisticação, audácia, aura de perigo: o rumor de que ela praticava magia negra era apenas um dos muitos que circulavam naquela época. Provavelmente, Anita foi a mais selvagem de todos, no que se refere a drogas e sexo. Segundo a opinião da parte mais empresarial do grupo, era um perigo. Depois da famosa detenção de 1977 em Toronto, quando Richards foi acusado de tráfico de drogas, aumentaram as pressões para que o casal se separasse.