Violência em ato de trabalhadores adia votação de pacote em Curitiba

A sessão da Câmara dos Vereadores de Curitiba (CMC) desta terça-feira (20), que votaria o pacotaço do prefeito Rafael Greca, foi suspensa. Após tumulto, agressões contra quatro servidores pela Polícia Militar do Paraná e muita pressão da população curitibana, os vereadores decidiram marcar a votação dos quatro projetos diretamente ligados a carreira dos servidores para a próxima segunda-feira(26). 

Agressão da Policia Militar a servidores em Curitiba em protesto contra pacote de grega - Melito/Midia Ninja

Ao final desta terça-feira tensa – com um dos maiores registros de uso da força policial na história da Câmara municipal – os servidores, em assembleia, decidiram suspender a greve para retomá-la na segunda-feira (26). Os cinco sindicatos que representam o funcionalismo público municipal permanecem na luta pela retirada do pacotaço.

No período da tarde, os vereadores – declaradamente contra as propostas do prefeito – se reuniram novamente com representantes da Comissão de Direito Sindical da OAB-Paraná. O encontro ocorreu no gabinete do presidente da CMC, vereador Serginho do Posto, quando foi deliberado pela votação do plano de ajuste fiscal da prefeitura na próxima semana. Os vereadores da oposição também querem audiência com o prefeito, que se mantém alheio às vozes das ruas.
 
Segundo o coordenador de estrutura do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc), Jonathan Faria Ramos, um dos dirigentes que ocupou o plenário da câmara, com o objetivo de suspender a votação do pacotaço, a reunião dos vereadores com a OAB-PR não contou com a participação dos representantes sindicais.

“Quem intermediou foram os vereadores que nos apoiam. O vereador Serginho do Posto e outros favoráveis aos projetos da gestão estavam irredutíveis. Defenderam as emendas que eles propuseram, as quais não resolvem o problema e permanecem eliminando os nossos direitos. Há outros caminhos para fazer ajustes nas contas públicas. Rafael Greca pode iniciar o processo parando de gastar com publicidade e cargos comissionados e com função gratificada”, explicou.

 
Violência policial sem precedentes

Do lado de fora da Câmara, milhares de servidores ligados a todas as carreiras da prefeitura protestaram contra os abusos e arbitrariedades cometidas ao longo do dia. Para evitar a entrada na Câmara e conter os trabalhadores, a PM do Paraná recorreu à violência e uso de spray de pimenta. As imagens capturadas do dia registram violência policial contra as servidoras municipais. As vereadoras Professora Josete e Noemia Rocha, que representam na Câmara a luta de milhares de mulheres trabalhadoras, lamentaram o episódio.
 
Josete ressaltou que não houve esforço para tentar abrir diálogo com o executivo com o objetivo de reverter a situação. “Já previa que o acirramento iria continuar, uma vez que houve uma reunião com secretário de governo, mas sem nenhuma avanço. Sinalizaram apenas emendas que são mínimas e que não alteram a essência dos projetos. Infelizmente a Casa e a mesa diretora da Câmara e a prefeitura não conseguem avaliar que cada vez mais está se potencializando esse acirramento. Quando você chama a força policial – e tem um número enorme de policiais aqui –  isso leva a um tensionamento ainda maior. A casa que é do povo, o povo não pode acessar, não pode participar. É o dia mais triste que vivi na Câmara”, lamentou.
 
Na avaliação de Noemia Rocha, as promessas da semana passada foram em vão. Para tanto, ela e mais 8 vereadores da oposição realizam nesta semana uma conversa com o presidente da CMC visando solicitar uma agenda com o prefeito Rafael Greca. O objetivo é tentar viabilizar mudanças e a retirada dos projetos que, segundo ela, são inviáveis para a cidade. “É direito democrático. Sr Rafael Greca,  não é monarquia. Em nossa cidade o regime é democrático, por favor, ouça a população porque essa casa é do povo”, alfinetou.
 
Lideranças de bairro contra o pacotaço
 
Lideranças populares de bairros da periferia de Curitiba também se juntaram à luta dos servidores. Moradores do Campo Comprido, Cajuru e Tatuquara expressaram sua indignação em relação à administração pública. "Os curitibanos não são obrigados a pagar as contas do prefeito. O que vai sobrar para nós pagando tantos impostos? Pagamos impostos, mas nem remédios temos nos postinhos de saúde", declarou a Rosemary Bueno, moradora do bairro do Campo Comprido.
 
O conselheiro local de saúde no bairro Cajuru, o senhor Evandro de Carvalho (popularmente conhecido como Tito), completou: " Apóio o movimento porque sou usuário das unidades de saúde e tenho sobrinhos que usam os cmei's e escolas municipais. Direitos não podem ser retirados dos trabalhadores. O vereador Serginho do posto, que se elegeu também com os votos do nosso bairro, sabe que o cargo dele não é pra sempre. Precisam se lembrar que todos os vereadores são eleitos para representar a vontade do povo".
 
Pacotaço chega à região metropolitana
 
Servidores de Colombo, município da região metropolitana de Curitiba, ocuparam a Câmara Municipal contra a retirada de direitos. A discussão do projeto 007/2017, deveria ser realizada no dia 13 de junho, após a sessão ordinária. Nesta terça-feira, ocuparam o prédio contra o pacotaço da prefeita Beti Pavin que retira direitos e conquistas dos servidores.