Sousa Júnior – Eleições Diretas: Já ou só em 2018?

“Sem esclarecer como realizá-las, a campanha pelas Diretas Já fica muito parecida com a do Fora Temer, apenas para marcar a posição de que somos contra o golpe, porém sem qualquer consequência prática, a não ser esperar por eleições em 2018, se houver, enquanto o País afunda e os trabalhadores perdem seus direitos, com ou sem Temer”.

Por *Sousa Júnior

Diretas Já

A partir da delação dos irmãos Batista da JBS, praticamente todas as forças de esquerda e movimentos sociais, que até então se limitavam a defender o Fora Temer, passaram a sustentar a bandeira das Diretas Já diante do aparente e iminente fim do ilegítimo governo Temer.

Porém, será que as lideranças desse crescente movimento de adesão às Diretas Já realmente acreditam e estão de fato empenhadas em realizar eleições diretas ainda neste ano? O questionamento se justifica devido aos discursos e movimentações políticas de diversas lideranças de esquerda apontarem a solução da atual crise institucional somente em 2018.

Gleisi Hoffmann, recém eleita presidenta do PT, e Carlos Zarattini, líder do PT na Câmara dos Deputados, estiveram recentemente em Fortaleza e logo após defenderem Diretas Já, na conclusão de seus discursos, sustentaram que a solução para o Brasil era a eleição de Lula em 2018. Esta contradição, aliás, acompanha a propaganda e todos os discursos do PT.

Ao lado dessa falta de firmeza na defesa imediata de eleições diretas, crescem dois movimentos: um pelas Diretas Já (em 2017 e não em 2018), com adesões de diversos setores da sociedade, incluindo segmentos que sustentaram o golpe, como a OAB; enquanto outro movimento busca a substituição do governo Temer através de eleição indireta, aglutinando boa parte das forças golpistas, a exemplo da Globo, certamente por entenderem que o governo Temer chegou ao fim e não tem capacidade de aprovar as chamadas reformas.

Há, porém, forças golpistas, cada vez mais minoritárias, centradas no Congresso Nacional que, a pretexto de aprovar tais reformas, querem a todo custo salvar o governo, com o objetivo, na verdade, de salvarem a si próprias das delações e investigações sobre a corrupção.

O certo é que as forças golpistas estão divididas. Mas a esquerda também está, entre os que acreditam de fato em eleições ainda neste ano, os que defendem ou acreditam em eleições somente em 2018 e os que sonham com a anulação do impeachment pelo STF. Não é simples apontar uma saída unificada para a crise atual. Mas sem unidade quanto ao caminho a seguir, como esperar que milhões ocupem as ruas para derrotar o golpe e restaurar a democracia?

Diretas Já nos parece este caminho, e único. Mas diferente de 1984, quando havia a emenda Dante Oliveira, hoje sequer o povo tem conhecimento (nem a maioria das lideranças tem) sobre como realizar eleições diretas ainda neste ano (há vários projetos em tramitação nesse sentido), enquanto a mídia e as forças golpistas sustentam que a Constituição determina que sejam indiretas. Sem esclarecer como realizá-las, a campanha pelas Diretas Já fica muito parecida com a do Fora Temer, apenas para marcar a posição de que somos contra o golpe, porém sem qualquer consequência prática, a não ser esperar por eleições em 2018, se houver, enquanto o País afunda e os trabalhadores perdem seus direitos, com ou sem Temer.


*Sousa Júnior é publicitário e participa do Movimento Democracia Participativa.

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