América Latina invisível: crise generalizada nos governos neoliberais

Michel Temer é presidente do Brasil sem um voto nas urnas. Maurício Macri, o dos Panamá Papers, mantém Milagro Sala no cárcere na Argentina como presa política. Juan Manuel Santos está envolvido no escândalo da Odebrecht porque recebeu 1 milhão de dólares para sua campanha na Colômbia em 2014. No México de Enrique Peña Nieto já foram assassinados 36 jornalistas. No ano passado Pedro Pablo Kuczynski governou o Peru com 112 decretos para evitar o legislativo.

Por Alfredo Serrano Mancilla*

Desaparecidos no México - Los Andes

Porém, nada disso importa. O único país que chama a atenção é a Venezuela. Os trapos sujos que mancham as democracias do Brasil, Argentina, Colômbia, México e Peru ficam absolvidos por isso que chamam de “comunidade internacional”.

O eixo conservador está isento de dar explicações diante da falta de eleições, da perseguição política, dos escândalos de corrupção, da falta de liberdade de imprensa ou da violação da separação de poderes. Podem fazer o que quiserem porque nada virá à luz da opinião pública.

Tudo fica absolutamente sepultado pelos grandes meios de comunicação e por muitos organismos internacionais autoproclamados como guardiões da ordem internacional. E além disso sem necessidade de estar submetidos à nenhuma pressão financeira externa, pelo contrário.

Nestes países a democracia tem rachaduras demais para dar lições externas. Uma concepção de baixa intensidade democrática lhes permite normalizar todas as suas falhas sem necessidade de dar muitas explicações. E na maioria das ocasiões isso vem acompanhado pelo aval e propaganda de determinados indicadores enigmáticos que não sabemos nem como se obtém. Um dos melhores exemplos é o calculado pela “prestigiada” Unidade de Inteligência do The Economist que obtém seu “índice de democracia” com base em respostas correspondentes a “avaliações de especialistas” sem que o próprio estudo dê detalhes, nem dados precisos sobre as informações. Assim a democracia é mantida numa caixa negra e ganha quem tiver mais poder midiático.

Mas ainda há mais: este bloco conservador tampouco pode falar em democracia no âmbito econômico. Não pode haver democracia real em países que excluem tanta gente de direitos sociais básicos para gozar de uma vida digna. Mais de 8 milhões de pobres na Colômbia; mais de 6,5 milhões no Peru, mais de 55 milhões no México; mais de 1,5 milhões de novos pobres na era Macri; e uns 3,5 milhões de novos pobres na gestão de Temer. O curioso caso é que estes ajustes fiscais contra a cidadania tampouco servem para apresentar modelos econômicos eficazes. Todas estas economias estão estancadas e sem perspectivas de recuperação.

Esta América Latina invisibilizada não deve nos servir como desculpa para não nos ocuparmos dos desafios dos processos de mudança. Não obstante, nesta época de grande impulso geopolítico, devemos fazer que o invisível não seja sinônimo de inexistente. Esta outra América Latina falida deve ser descoberta e problematizada. Não deixemos que nos imponham a agenda.