Pedro Rossi: Golpe é antidemocrático, antinacional e entreguista

O economista da Unicamp Pedro Rossi aponta como objetivo por trás do golpe uma mudança drástica no projeto econômico brasileiro. De acordo com ele, a investida neoliberal em curso tem no centro o desmonte do Estado como indutor do crescimento e do bem-estar social. “E pesa claramente em favor do capital, em detrimento do trabalho”, diz. Para ele, a abertura do país alardeada por Michel Temer na conferência da ONU vai na contramão do que tem feito o restante do mundo.

Pedro Rossi

“O golpe não é só antidemocrático. É também antinacional, entreguista. Entrega os nossos instrumentos de desenvolvimento e entrega os instrumentos que o Estado tem não só de desenvolvimento produtivo, mas também de desenvolvimento social”, critica.

Em vídeo na sua página no Facebook, ele fala sobre o que chamou de “economia do golpe”. O professor destaca que a mudança de projeto econômico também aconteceu no golpe de 1964. “Também houve confronto de dois projetos de desenvolvimento. Havia um projeto trabalhista popular e democrático, sustentado pelo Jango – onde reforma agrária e o aumento de salários, o trabalhismo eram centrais – , e o projeto conservador e autoritário, concentrador de renda, que foi o que prevaleceu com o golpe de 1964”, resgata.

Na sua avaliação, após o impeachment de Dilma Rousseff, o projeto social-desenvolvimentista levado adiante pelos governos do PT – que se apoiava na Constituição de 1988, promoveu direitos sociais, protegeu a legislação trabalhista e avançou na distribuição de renda da base da pirâmide e no combate à fome e à miséria – está sendo substituído por um projeto absolutamente neoliberal.

“[Esse novo projeto] destrói o legado recente das políticas sociais, mas não apenas. Destrói o legado do Vargas, da legislação trabalhista, do projeto nacionalista, das estatais e o legado da Constituição de 1988”, enumera.

Segundo Rossi, tal projeto tem aniquilado os instrumentos que o Estado tem para dar estabilidade à economia, gerar empregos e fazer políticas de desenvolvimento. “Quando se trava a política fiscal e o investimento, por uma regra de teto de gastos, se está restringindo o papel do Estado como indutor do crescimento e como estabilizador da economia. Quando se fala em privatização das estatais e em gestão privada de bancos públicos, se vai na mesma direção”, indica.

“O governo tem desmontado bancos públicos, a Petrobras – que está sendo privatizada aos poucos – e sinaliza a privatização da Eletrobrás. São todos instrumentos do desenvolvimento que o Estado poderia usar e, na verdade, está entregando”, completa.

O economista destaca o ataque aos trabalhadores, em benefício do capital, ao citar as mudanças na legislação trabalhista, a tentativa de aprovar a reforma da Previdência e mesmo a política fiscal em voga, que fez com que o gasto social ficasse reprimido pela regra do teto de gastos.

De acordo com Pedro Rossi, as iniciativas levadas adiante pelo grupo no poder, são, também, “anacrônicas” na comparação com o cenário internacional. “Temer foi à ONU dizer que o Brasil está se abrindo e vendendo patrimônio, em um momento de clara contradição internacional sobre esses temas. Estamos na contramão da história. Estamos vivendo uma segunda onda neoliberal, em um momento em que o mundo está se transformando”, analisa.

Para ele, a “economia do golpe” é também autoritária, uma vez que esse projeto não passou pelas urnas – e nem passaria, porque tem ampla rejeição de vários setores da população. Nesse sentido, ele defendeu que as medidas adotadas pelo atual governo sejam submetidas a um referendo popular, com poder de revogá-las.

“É preciso pensar para frente, em revogar esses processos que fundam a economia do golpe, como por exemplo, a EC 95 [do teto de gastos], a reforma da Previdência e a trabalhista e as privatizações. Vamos chamar a população para decidir se esse processo é democrático ou não e referendar ou não esses projetos. Senão teremos a consolidação desse processo de golpe que não é só Michel Temer. O golpe é um projeto econômico no Brasil”, conclui.