Brasil Metalúrgico: Pressão por direitos e para recuperar indústria

O economista Rodolfo Viana, assessor do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e região, afirmou que o movimento Brasil Metalúrgico pode significar o início de uma virada de mesa no processo de desindustrialização vivido no Brasil. A crise na indústria extinguiu 530 mil postos de trabalho metalúrgico. Debater a crise e preservar direitos trabalhistas são pauta da plenária nacional unificada da categoria que acontece nesta sexta-feira (29), em São Paulo.

Por Railídia Carvalho

Brasil Metalúrgico - Paulo Segura

O movimento é unificado e reúne todas as federações, sindicatos e confederações de metalúrgicos do país com o apoio da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), CSP-Conlutas, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Intersindical, União Geral de Trabalhadores, Central dos Sindicatos Brasileiros e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).

Em agosto foi criada uma agenda unitária que iniciou no dia 14 de setembro um calendário que prossegue com a plenária desta sexta. A ideia é fortalecer, durante as campanhas salariais, o discurso e a estratégia dos trabalhadores para evitar que a lógica precarizante da reforma trabalhista prevaleça sobre o que está garantido na convenção coletiva.

Reforma dificulta retomada do crescimento

Na opinião do economista (foto), que é responsável pela subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em Guarulhos, a reforma trabalhista vai dificultar a retomada do crescimento. “A reforma vai trazer para a legalidade formas de contratação precárias que afetarão o trabalhador e a produtividade das empresas.”

Ele citou a rotatividade como um aspecto negativo. “Quanto mais o trabalhador conhece a empresa e o posto e a rotina do dia a dia da empresa, ele tende a ser mais produtivo, mais eficiente.” Na contramão do que diz Rodolfo, a reforma trabalhista deve aumentar a rotatividade.

A médio prazo os efeitos da reforma podem atingir os empregadores, afirmou. “Diminuir os custos do emprego com uma visão de curto prazo vai gerar um trabalhador com salário menor e, portanto, consumo menor também”, acrescentou.

Desemprego

Os metalúrgicos assumem o protagonismo contra a reforma e em defesa da retomada do crescimento com geração de emprego em um cenário que registra pelo quarto ano consecutivo queda no emprego do segmento.

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e Relação Anual de Informações Sociais (Rais) mostram que em agosto deste ano o setor metalúrgico registra 1 milhão e 911 mil trabalhadores empregados. Em 2013 havia 2 milhões e 446 mil metalúrgicos trabalhando. 530 mil vagas foram extintas.

“Depois do crescimento registrado até 2013, retrocedemos para números registrados em 2007, quando havia 1 milhão e 989 mil metalúrgicos empregados”, destacou Rodolfo. 

Resistência histórica

Na opinião dele, o movimento Brasil Metalúrgico surge em sintonia com a trajetória de resistência da categoria. “Historicamente, sempre se mostraram como um dos segmentos de atuação para avançar nos direitos e não permitir retrocesso. Isso se dá pela sua estrutura de organização e a melhor forma de fazer a reforma não colar é tentar barrar nas convenções coletivas.”

“O que os metalúrgicos estão fazendo é um enfrentamento em bloco contra a vigência da reforma trabalhista. Se conseguir bons resultados dá para pensar ações em outros patamares para o ano que vem”, avaliou Rodolfo. À exceção dos metalúrgicos, ele não vê medidas que apontem para a recuperação da indústria em geral e nem da indústria metalúrgica.

“Chama de indústria da transformação porque ela transforma: pega o minério e transforma em lingote de ferro para fazer parte da construção civil. É preciso fortalecer o que agrega valor, fortalecer a indústria”, defendeu.

Agenda unitária

Contra o desmonte da Previdência Pública, debate de um contrato Coletivo Nacional, apoio aos servidores públicos e repúdio à privatização da Eletrobras e de outras empresas estatais também fazem parte do calendário de lutas do Brasil Metalúrgico. 

No dia 3 de outubro, os metalúrgicos se unem a outros movimentos sociais e sindicais em ato contra a privatização em frente à sede da Eletrobras, no Rio de Janeiro. O ato prosseguirá em passeata no mesmo dia até o prédio da Petrobras.

Para esta sexta-feira, os metalúrgicos aguardam a presença de outros segmentos de trabalhadores da indústria como forma de fortalecer a iniciativa. A expectativa é de reunir mil lideranças de trabalhadores da área. 

Plenária Nacional dos Trabalhadores da Indústria

Sexta-feira, 29 de setembro
Das 9h às 14h
No CMTC Clube: Avenida Cruzeiro do Sul, 808, próximo à estação Armênia do metrô (Linha 1-Azul), São Paulo/SP.