BC ignora crise e vai desacelerar ritmo de redução da taxa de juros

Apesar de o Brasil continuar dono de umas das taxas de juros reais (descontada a inflação) mais altas do mundo, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, reiterou nesta segunda (2) que a instituição tende a optar por um corte menor na Selic, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), este mês.

juros - Charge: Sinfronio

Atualmente, os juros básicos da economia estão em 8,25% ao ano, após oito cortes consecutivos. É o mais baixo patamar da Selic em quatro anos. A princípio, pode parecer uma ótima notícia, mas é preciso observar o comportamento da inflação.

Em dezembro de 2015, a inflação acumulada em 12 meses era de 10,67%. Naquele período, a Selic estava em 14,25%. Hoje, a Selic recuou, mas não no mesmo ritmo da inflação, que está hoje em 2,46%, menor percentual em 18 anos. Significa dizer que o juro real não caiu de 2015 para cá, pelo contrário, aumentou. Mas Goldfajn acha que não é hora de mudar essa situação.

"Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária", afirmou o presidente do BC. "Além disso, nas mesmas condições, o Comitê antevê encerramento gradual do ciclo".

O Copom, que se reúne a cada 45 dias, só realizará mais dois encontros neste ano. Segundo Goldfajn, “o Copom ressalta que o processo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação”.

Ele próprio reconhece, contudo, que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural (aquela que permite a economia crescer sem gerar pressões inflacionárias). E avalia que o comportamento da inflação permanece "bastante favorável". "As projeções do Copom indicam uma inflação sob controle", disse.

O presidente do Banco Central atribuiu a queda da inflação à política monetária, sem levar em consideração ela decorre, na realidade, de um cenário de recessão profunda. Afinal, com 13 milhões de desempregados no país, quem vai consumir?