As queimadas em Portugal e as respostas exigidas pela floresta 

Numa declaração sobre os incêndios florestais, o Partido Comunista Português (PCP) afirmou que "é tempo de cuidar das vítimas" e reafirmou a necessidade de implementar a legislação existente, com a disponibilização de "meios técnicos, financeiros e humanos"

queimadas em Portugal

Numa conferência na sede central do PCP, o dirigente comunista João Frazão transmitiu a "mais profunda solidariedade" com as "vítimas e os familiares atingidos" e o "mais profundo reconhecimento" a todos os agentes de todas as áreas da Protecção Civil que atuaram e atuam "para minimizar danos e prejuízos".

À semelhança da posição assumida após os incêndios que assolaram a região Centro no final de Junho, o PCP considera que "é tempo de cuidar das vítimas, de assegurar procedimentos de emergência, em particular assegurando habitação a quem perdeu a sua, de reestabelecer comunicações, de recuperar potencial economico perdido, de repor infra-estruturas destruídas ou desativadas e equipamentos públicos atingidos em consequência dos incêndios".

Os comunistas lembram ainda a lei aprovada na sexta-feira (13) pela Assembleia da República, "com origem num projeto-lei do PCP", de apoio às vítimas dos incêndios florestais de Pedrógão Grande e de reforço da prevenção e combate aos incêndios. O PCP considera que o documento "deve ser promulgado urgentemente pelo Presidente da República e deve levar o Governo" a alargar "a sua aplicação a outros concelhos percorridos pelas queimadas florestais".

João Frazão anunciou que os comunistas vão encaminhar pedidos de audiência ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e à procuradora-geral da República.

Financiamento necessário para resposta aos problemas da floresta

Na discussão do Orçamento do Estado para 2018, que foi entregue na Assembleia da República na sexta-feira (13), o PCP entende que devem ser consideradas três questões "com particular importância": a criação de 100 novas equipes de sapadores florestais (trabalhadores especializados na prevenção e combate aos incêndios florestais), em cumprimento do objetivo de que estas cheguem de 500 até 2019; a calendarização da reconstituição do corpo de guardas florestais; e "a definição dos meios para as medidas de prevenção estrutural, designadamente quanto às redes de faixas de gestão de combustíveis".

Para além das medidas a serem tomadas no âmbito do processo orçamental, o PCP irá apresentar projetos sobre o preço da madeira e sobre a valorização da biomassa. João Frazão anunciou ainda que os comunistas vão propor o "reforço do programa de fogo controlado", a criação de "um programa de planos de evacuação e concentração da população em aldeias em meio florestal", um "programa de limpeza das matas nacionais" além do "reforço de verbas para as redes de faixas de gestão de combustível".

Para o PCP, afirmou João Frazão, "as respostas que a floresta portuguesa exige não se conciliam com as limitações e constrangimentos impostos à vida nacional nos últimos anos". Em resposta a questões dos jornalistas, lembrou que o cadastro florestal não foi feito porque o anterior governo não investiu os 700 milhões de euros necessários, cedendo às pressões de cortes drásticos na despesa pública.

O dirigente comunista recordou ainda que, ao longo dos últimos 40 anos, a tutela pela floresta tem passado por ministros do PS, do PSD e do CDS-PP, sem que a mudança de caras ou de governos tenha significado a resposta às necessidades, mas o agravamento da situação.

De acordo com a última informação prestada pela porta-voz da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), Patrícia Gaspar, estão confirmadas 31 mortes na sequência dos incêndios florestais dos últimos dois dias (15 e 16), havendo outras vítimas cujas circunstâncias ainda não foram definitivamente apuradas.

Até a tarde de segunda-feira (16), existiam cerca de 50 incêndios florestais ativos em todo o território nacional.

"É óbvio que mais meios áreos fizeram falta"

A porta-voz da Proteção Civil reconheceu que no último domingo (15) houve falta de meios de combate aos incêndios. "Obviamente que neste momento e sobretudo durante o dia 15 de outubro teria sido benéfico ter mais meios aéreos", reconheceu a responsável, sublinhando que "aquilo que estava ao nosso alcance, foi feito" e abstendo-se de comentar com mais detalhe a matéria. "No dia 15 de outubro tínhamos 18 meios aéreos. Ninguém poderia dar-lhe uma resposta diferente: é óbvio que faltaram mais meios aéreos, teriam sido uma vantagem importante". "Trabalhamos e tentamos gerir o melhor que podíamos com os meios que estavam disponíveis", justificou.

Os incêndios 

Um novo balanço apresentado esta terça-feira (17) pela Proteção Civil sobe para 41 o número de vítimas mortais provocadas pelos incêndios, de acordo com novos dados da agência Lusa. De acordo com a Autoridade Nacional de Protecção Civil foram encontrados com vida seis dos sete desaparecidos, aumentando o número de feridos para as 71 pessoas. Permanece ainda uma pessoa desaparecida no distrito de Coimbra. As queimadas afetam do centro ao norte de Portugal; são mais de 500 focos, há estradas e autoestradas cortadas e várias aldeias tiveram que ser evacuadas pelo perigo das chamas que se expandem com temperaturas superiores aos 30 graus centígrados, uma umidade inferior ao 20% e ventos fortes que levam o drama de uma parte a outra do país.

Na Galícia, uma comunidade autônoma espanhola vizinha a Portugal e que também foi severamente afetada, os incêndios fora de controle já provocaram quatro mortos até a segunda-feira (16). As autoridades trabalham desesperadamente para que o fogo não atinja Vigo, sua cidade mais populosa. Por enquanto, a prefeitura já pediu para que as pessoas que moram em zonas de risco abandonem suas casas e sigam para hotéis que irão receber os desabrigados. Aliás, 436 brigadistas que haviam sido contratados para atuar temporariamente, somente durante o verão europeu que já findou, foram demitidos. A única esperança dos bombeiros era a chegada das primeiras chuvas em meses, que aconteceu na manhã da segunda feira (16).

No país luso, os incêndios mais graves se agrupam no centro, nas serras que rodeiam Coimbra (aproximadamente 134.000 habitantes), embora a onda de incêndios se estende por Valença, Sertã, Viana do Castelo, Braga, Viseu e Monção.

A área perdida

Os dados disponíveis ao início da manhã desta terça-feira (17) no Sistema do Centro de Investigação Comum da Comissão Europeia (EFFIS), que apresenta áreas ardidas cartografadas em imagens de satélite, indicavam que só na zona do Pinhal Litoral, que abrange o Pinhal de Leiria, arderam no domingo (15) e na segunda-feira (16) 11.394 hectares.

O sistema português contabiliza 225.447 hectares de floresta queimada este ano (equivalente ao distrito de Viana do Castelo), valor inferior ao calculado pelo Sistema do Centro de Investigação Comum da Comissão Europeia, que regista 316.100 hectares. Questionada sobre a diferença de valores, a adjunta do comando nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil Patrícia Gaspar explicou que o sistema europeu "baseia-se numa análise feita por satélite", enquanto o sistema português aguarda pela validação no terreno. 

O país da União Europeia que mais se aproxima de Portugal em área queimada é a Itália, que apresenta um total de 133.526 hectares ardidos, menos de metade do território português.