Tribuna da Luta Operária, o jornal da luta contra a ditadura

O jornal como organizador coletivo – o cumprimento deste axioma do marxismo comemora nesta quarta-feira (18) um aniversário importante no Brasil: os 38 anos do início de circulação da Tribuna da Luta Operária.

Por José Carlos Ruy*

Capa Tribuna Operaria 0 - Reprodução

O periódico dos comunistas foi lançado na conjuntura da crise e superação da ditadura militar de 1964.

O ano era 1979. A Lei de Anistia da ditadura acabara de ser promulgada (lei n° 6.683, de 28/08/1979), os exilados voltavam para o Brasil, ou se preparavam para fazê-lo.

A imprensa popular, na época, tinha jornais de frente ampla, como Movimento, e outros, formados por frentes democráticas e de oposição à ditadura.

A luta democrática avançava e conquistou o espaço que tornou possível a expressão própria de cada corrente política.

O PCdoB iniciava uma nova fase de atuação, superando a pesada clandestinidade do período mais cruel da ditadura, e entrava em uma semiclandestinidade onde teve a ousadia de dirigir-se abertamente à população e à sociedade.

Naquela conjuntura se aprofundou e conquistou o povo a luta pela democracia, pela restauração do Estado Democrático de Direito, pela convocação de eleições diretas em todos os níveis e pela convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A conjuntura era marcada também pelo recrudescimento da reação terrorista da direita contra os avanços democráticos.

A Chacina da Lapa (16/12/1976) fora cometida pela repressão alguns anos antes, na qual foram assassinados os dirigentes Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond e presos outros membros do Comitê Central, ferindo a direção nacional do PCdoB. Em consequência os principais dirigentes do Partido tiveram que refugiar-se no exílio onde, a duras penas, reconstruíram a direção nacional.

Naquela conjuntura, compreendendo a mudança ocorrida, que impunha nova forma de luta e fazia crescer a importância da resistência democrática de massas, o Comitê Central, mesmo no exílio, deliberou pelo lançamento de um jornal de massas que fosse o veículo da mensagem e das ideias do Partido. Nasceu então a Tribuna da Luta Operária, que começou a circular em 18 de outubro de 1979 e durou até 6 de junho de 1988, quando outra mudança na conjuntura levou à sua suspensão, decidida no 7º Congresso do PCdoB, realizado naquele ano.

O cumprimento da tarefa de tornar realidade o jornal projetado pelo Comitê Central coube a um conjunto de jornalistas comunistas que deixou sua marca indelével na comunicação partidária nos anos seguintes. Entre estes nomes cabe lembrar Olívia Rangel, Pedro de Oliveira, Rogério Lustosa, Bernardo Joffily (o primeiro chefe de redação da TLO e criador, em 2002, do Portal Vermelho). E outros nomes de destaque, como Altamiro Borges, Carlos Pompe, Domingos Abreu e Umberto Martins.

A formulação do projeto editorial teve a fundamental contribuição profissional do jornalista Carlos Azevedo, dono de grande experiência adquirida na imprensa hegemônica (fez parte, por exemplo, da equipe da revista Realidade), era colaborador, na clandestinidade, da imprensa alternativa (o jornal Movimento). E trazia também a vivência na imprensa partidária (fez parte da equipe de A Classe Operária na terrível década de 1970).

Cabe menção especial a Rogério Lustosa, um importante editor da Tribuna da Luta Operária, onde manteve a coluna que honra o marxismo brasileiro e teve análises profundas, bem informadas e humoradas, chamada “Lições da Luta Operária”, cujos textos não perdem a atualidade e importância e merecem uma edição em livro. Rogério Lustosa já não está entre nós – deixou a vida em 21 de outubro de 1992, há 25 anos, ceifado por um infarto; tinha apenas 49 anos de idade.

A Tribuna da Luta Operária cumpriu papel central na resistência democrática contra a ditadura. Foi a voz democrática, popular e comunista levada aos brasileiros, distribuída de maneira militante nas portas de fábrica, em bancas de jornal e em sindicatos e entidades populares e de trabalhadores. A tiragem alcançou, em algumas edições, os 50 mil exemplares!

Organizador coletivo, o projeto editorial da Tribuna da Luta Operária enfatizava todos os aspectos da luta do povo. A luta social e sindical tinha grande destaque editorial, ao lado das ações políticas e institucionais que, na época, eram muito limitadas pelas duras condições da ditadura, que prevaleceram até 1985. Teve grande papel, por exemplo, na campanha das diretas já, de 1984 e 1985.

Uma das seções mais valorizadas da Tribuna era a “Fala o Povo”, composta por cartas recebidas de todos os cantos do Brasil, com o relato das lutas e das condições de vida dos brasileiros. Era uma das seções mais importantes, e mais lidas, do jornal.

Legiões de trabalhadores e militantes, em todo o país, os chamados “tribuneiros”, se encarregavam de difundir amplamente o jornal, que levava informações e também o pensamento dos comunistas aos brasileiros.

Era, por isso, um grande obstáculo contra a ação antidemocrática da direita, que o transformou em alvo de atentados terroristas. Como o cometido em 27 de agosto de 1980, que levou bombas dos terroristas ligados à repressão policial à sede da OAB, no Rio de Janeiro, matando a secretária Lyda Monteiro da Silva; à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro (ferindo o assessor José Ribamar de Freitas). E também, naquela madrugada, à redação da Tribuna da Luta Operária, que foi destruída.

O terrorismo da direita crescia e tinha a Tribuna da Luta Operária entre seus alvos. Até então o terrorismo da direita agia sob a ação repressiva da ditadura. Entre 1971 a 1975 o número de desaparecidos contava-se às dezenas (51 em 1971; 44 em 1972; 43 em 1973; 13 em 1974; 12 em 1975). Declina a partir de 1976 (quando foram 8; em 1977, 1; 1978, 2; 1979, 3; 1980, zero). Em contrapartida, os atentados terroristas passaram de 8 em 1976, para 19 em 1978; 10 em 1979; 29 em 1980. Atentados que ocorreram no Distrito Federal e em oito estados (Ceará, Bahia, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo).

Neste contexto, os “tribuneiros” – fossem seus jornalistas e colaboradores, seja a imensa massa anônima que distribuía o jornal país afora – escreveram uma página heroica de luta contra a ditadura, pela democracia e pela conquista de uma forma superior de organização social – o socialismo.


Coleção digitalizada da Tribuna Operária