Mulheres tecem resistência em filme sobre atingidas por barragens

Aos 69 anos, Elvira Morato foi ao cinema pela primeira vez nesta quinta-feira (20) no Cine Belas Artes, onde o documentário “Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência” foi lançado em São Paulo (SP). Na tela, assistiu as histórias de mulheres como ela, que tiveram suas vidas impactadas pela construção de barragens.

Documentário Arpilleras Mulheres Atingidas por barragens - Marcelo Aguilar / MAB

"Pra mim está sendo uma experiência muito boa porque eu nunca tinha participado. Vim pela primeira vez e fiquei muito emocionada porque nunca tinha visto na minha vida", contou Elvira, após a sessão.

Ela vive no quilombo São Pedro, região do Vale do Ribeira, no estado de São Paulo e integra o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), entidade que organizou o filme de forma coletiva e autônoma.

A direção é assinada pelo coletivo de mulheres do Movimento e a narração é feita pela atriz Dira Paes. O filme exibe histórias das integrantes do MAB que utilizam técnica de bordado chilena chamada arpillera como meio para denunciar os crimes ambientais e as violações aos direitos humanos que as construções trazem para as comunidades delas.

"É muito gratificante estar divulgando através delas o nosso direito, nossa luta, o pedacinho da história que vivemos em cada comunidade. Temos algumas diferenças entre uma comunidade e outra, mas vivemos a mesma luta", conta Elvira.

Neudicléia de Oliveira, do coletivo nacional de comunicação do MAB, pontuou a importância da exibição do filme em um espaço tradicional do circuito de cinema paulistano.

"Para nós é uma conquista romper esse latifúndio também da cultura e da arte. Para o movimento, isso tem uma importância muito grande porque as próprias personagens do filme, muitas delas não tiveram acesso até hoje a uma sala de cinema", relata.

No filme, arpilleras de cinco regiões do Brasil tecem em conjunto, trocam cartas e experiências. O documentário tem depoimentos e cenas fortes que retratam a violência das famílias desalojadas de seus territórios por conta de grandes construções.

Mas, além das violações, o documentário também foca nas histórias de resistência como a Claides Helga Kowahld, única mulher entre os 119 homens que participavam do movimento na década de 1980.

Liciane Andrioli, da coordenação nacional do MAB, destaca o processo de construção coletiva do filme, do financiamento ao roteiro:

"A gente fez o filme rodando as cinco regiões principais do Brasil destacando mulheres atingidas por Barragens, militantes do movimento que são as personagens do filme e abordam sua realidade, do ponto de vista desde a construção e da participação do movimento até análise delas do modelo energético e a consequência na vida das mulheres", destaca.

O documentário “Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência” permanece em cartaz no Cine Belas Artes até o dia 26 de novembro.

Confira o trailer: