Desmistificando o aumento do nível da atividade econômica

Em texto publicado na sua página no Facebook, o economista da FGV, Nelson Marconi, desconstrói o discurso do governo de que há uma recuperação da economia. Ele destaca que os principais indicadores de agosto mostram que "o nível de atividade arrefeceu e até apresenta uma leve queda". Para ele, sem investimento público e um maior crescimento das exportações de manufaturados, o país "vai continuar patinando".

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Marconi calculou um indicador do nível de atividade (exibido no gráfico acima), no qual combinou três índices mensais relevantes sobre o lado real da economia, divulgados pelo IBGE: a produção da indústria de transformação, o volume de vendas do comércio (ampliado) e de serviços.

"Juntos, correspondem a aproximadamente 45% do PIB. Fica claro que, após o segundo trimestre, a tendência se reverteu. A indústria só não está pior devido às exportações de veículos, em um período em que deveria estar crescendo para atender as encomendas de final de ano. O resultado dos serviços permanece declinante. Mesmo o comércio, alardeado como impulsionador da recuperação, está patinando novamente", escreveu.

Ele destacou que a pequena melhora no emprego também se concentrou no setor informal, segundo a PNAD contínua. No mercado formal, foram criadas apenas 16 mil vagas nas regiões metropolitanas em julho e agosto. As restantes 55 mil foram criadas em outras regiões, em virtude do agronegócio, dos serviços que giram em seu entorno e da própria industria automobilística (dados do Caged).

"O governo continua insistindo na estratégia baseada na recuperação da confiança. Isso é necessário mas insuficiente. Tanto que, vejamos que ironia – foi utilizado um instrumento de estímulo imediato à demanda agregada no segundo trimestre, os saques do FGTS,  que (…) equivale a jogar moeda do helicóptero. Mas o fôlego é curto. Pode ser reforçado pelo segundo voo do helicóptero, ainda que de menor alcance – os saques das contas inativas do PIS-PASEP. Mas não dá para ir longe", defendeu.

Para Marconi, enquanto não forem utilizados estímulos consistentes à demanda, a economia não terá crescimento sustentado. "Não vai ser só pela queda da inflação que vamos nos recuperar.(….) Infelizmente esse é o quadro, e não aquele pintado e retocado diariamente pelo governo", disse.