Modernizar empresas é incorporar a diversidade dos recursos humanos

As empresas, em todos os regimes sociais, buscam aumentar sua produtividade, como condição para obter êxito nos ambientes competitivos onde atuam. Entre outras medidas, procuram fazer um adequado uso dos recursos humanos. Estes, entretanto, são bastante diversificados, e hoje já se sabe que uma boa administração dessa diversidade promove melhor produtividade.

Por Olívia Santana*

Nos mercados da Europa e dos EUA já houve avanços no entendimento de é benéfico para a sociedade e para o mundo corporativo a inserção de mulheres, negros, jovens, segmento LGBTs e pessoas com deficiência, nos quadros de liderança. Sabe-se que isto, bem administrado, não só não reduz, mas aumenta a produtividade empresarial. Em nosso país, com tanta diversidade que constitui o povo brasileiro, esse é um desafio a ser vencido.

Em nossas empresas e em nossos serviços públicos ainda prepondera uma cultura discriminatório dos recursos humanos. Embora possa ter exceções, as funções médias e superiores das grandes empresas e serviços públicos estampam um tipo hegemônico de trabalhador: homens e brancos.

Pesquisa realizada pelo Instituo Ethos em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento resultou no estudo “Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas” (2015). Dito estudo revela uma minoria de mulheres em cargos de chefia nessas empresas e, mais ainda, que num universo de 548 executivos, apenas duas mulheres se declararam negra e parda, o que equivale a ínfimo 0,4%. Nos cargos de gerência elas representavam 1,6%.

Isto revela um outro problema: é que à má gestão da diversidade de recursos humanos se agrega a discriminação propriamente racial. A pesquisa citada acima revela que o peso da cor desenha um perímetro bastante circunscrito ocupado por negros e pardos nas lideranças empresariais. Esses eram apenas 6,3% dos que ocupavam cargos de gerente, 4,7% entre os executivos e 4,9 entre os membros dos conselhos de administração. Já na base da pirâmide, 57,5 dos aprendizes e 58,2% dos treinees são negros e pardos.

Na Bahia, nos lançamos ao desafio de abrir o debate e buscar firmar pactos que nos levem a alteração deste quadro adverso para avançar na valorização da diversidade. É por isso que estamos realizando o I Fórum Baiano da Diversidade no Mundo do Trabalho, estabelecendo o diálogo entre empregadores e trabalhadores, governo, centrais sindicais e representantes do empresariado, além de outras organizações da sociedade civil.

Sabemos que políticas de diversidade não vão sanar as contradições existentes entre o capital e o trabalho. Entretanto, é fundamental corrigir distorções decorrentes das barreiras discriminatórias que impedem o direito de mobilidade das trabalhadoras e trabalhadores.

Há que se garantir que as forças produtivas que geram a riqueza econômica da sociedade, expresse em si a riqueza da diversidade humana no ambiente do trabalho, e que isto apareça nos cargos de liderança, de alto prestigio social e que respondem pelos melhores salários.

A incorporação da diversidade deve ser parte do planejamento estratégico de uma empresa. O desenvolvimento continuado, com metas de inclusão ampliadas, a serem atingidas, com temporalidade definida, possibilita a transformação do ambiente de trabalho, a democratização das oportunidades, eleva o bem-estar das trabalhadoras e dos trabalhadores estimulando a melhoria do seu desempenho. Os muros que nos separam devem ser substituídos por pontes que conectem e valorizem a diversidade como riqueza imprescindível ao desenvolvimento sustentável. Este é um excelente desafio para quem quer fazer história eliminando velhos costumes, velhas práticas, velhos preconceitos e possibilitando o oxigênio do novo, da transformação da paisagem do mundo do trabalho em um território onde a diversidade e sua força criativa se traduza cada vez mais plenamente, modernizando as corporações e as relações humanas.

* Olívia Santana é secretária estadual do Trabalho Emprego Renda e Esporte