“Intervenção militar é um retrocesso”, diz comandante da Aeronáutica

Apesar da repercussão do polêmico comentário de um oficial do Exército sobre uma intervenção militar, o comando das Forças Armadas Brasileiras reforça que tal intento está longe dos planos e que o país vai encontrar a saída para a crise política, “sem retrocesso”.

Nivaldo Luiz Rossato - Agência Brasil

Pelo menos é o que diz o comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, em entrevista ao jornal Correio Braziliense.

“Temos que acreditar que o Brasil vai encontrar o seu caminho, sem retrocessos, sem que exista essa necessidade de que volte ao passado, ou coisa assim. A intervenção militar é um retrocesso, sem qualquer chance de ocorrer, pois a Constituição estabelece de forma clara a missão das Forças Armadas”, disse.

Endossando o que disse o comandante das Forças Armadas, general Eduardo Villas Bôas, Rossato afirmou que a autoridade “suprema” é do presidente da República e que os oficiais da ativa não podem se pronunciar sobre política.

“Os caras da reserva começam a ficar valentes. Eu digo para pegarem uma barraquinha e irem para a Esplanada protestar. Eles podem, mas os da ativa, não”, frisou.

“Existia uma herança, de nosso passado, de que as Forças Armadas seriam tutoras da nação, e assim foi por muito tempo. Mas elas não são mais, e isso o próprio ministro diz, o próprio comandante do Exército diz. Temos problemas políticos econômicos no Brasil? Temos e ninguém pode esconder isso. A gente entende que o poder civil, ou seja, o Legislativo e o Judiciário têm consciência de sua responsabilidade”, enfatizou o comandante.

Questionado sobre o corte de verbas desencadeado pelo governo Temer, ele disse: “Se não temos orçamento para que todos voem, cortamos. Hoje temos cerca de 30% de redução no número de pilotos em voo”.
Segundo Rossato, o poder aéreo se tornou muito caro e é um serviço indispensável para o país “que precisa proteger essa imensidão de território”.

“Tivemos uma redução razoável no número de aviões. O que acontece é que podíamos estar voando o dobro do que voamos hoje, pois temos aviões para isso. O corte nos afetou muito, tiramos os pilotos dos voos”, afirmou.

Segundo ele, o número de tripulantes nas aeronaves foi reduzido e apenas mil pilotos estão voando.

“Reduzimos também, por exemplo, o suporte na região da Amazônia. Essa medida pesa para o Exército, Marinha, Meio Ambiente, todos esses órgãos, que são apoiados pela FAB. O transporte de doentes e órgãos também é caro. Digamos que hoje temos 600 aviões. Se a gente não quiser manter todos eles, vamos canibalizando, ou seja, trocando peças entre eles, para manter a frota. E é isso que está ocorrendo hoje”, relatou.

Sobre os projetos dos caças Gripen e dos cargueiros KC 130, o comandante disse que há engenheiros brasileiros na Suécia e um plano de comprar esses 36 Gripens.

“Na verdade não são só 36, porque nosso F5, que é a nossa aeronave principal de defesa aérea, tem 44 anos. Nós temos 50 modelos desse. Daqui a 10 anos, esse avião vai ter 54 anos, é muito difícil um avião de combate desses. Então, o Gripen não vai ser só 36. Temos de ampliar isso aí”, informou.

De acordo com Rossato, em 2019 esse aviões devem estar fazendo os voos de testes na Suécia e em 2021, o primeiro vai pousar em Anápolis.

Ao comentar sobre os planos de lançamento de um foguete do Brasil, o comandante disse que a base de Alcântara está pronta para fazer “os nossos satélites, os nossos foguetes e lançar”.

“Alcântara no início tinha quase 68.000 hectares. Houve a nomeação dos quilombolas e foram excluídos 8.500 hectares. Precisamos hoje de mais 12 mil hectares. A gente amplia a base mais para cima. Temos de retirar essas 300 famílias que moram lá e colocá-las ao lado, no mesmo meio em que vivem, mas ao lado. Fora daquele lugar, elas não podem viver ao lado de um foguete. Mas é claro que temos de dialogar com eles, falar diretamente com eles”, afirmou, se referindo a disputa de terra que há na região.

O comandante disse ainda que há interesses estrangeiros na região na disputa da região. “Não podemos garantir, mas quando tem tanta gente envolvida, fica difícil de acreditar que não existam outros interesses por trás. Mas temos de olhar é para o quilombola. Ver quais são os problemas deles, ver o que precisam e qual é o suporte que temos de dar para tirá-los dessa região e colocar no outro lado, como já foi feito antes”, declarou.