Em defesa do Teatro Oficina e do desenvolvimento Cultural do Bexiga

Fernanda Montenegro engaja-se na campanha em defesa do patrimônio cultural e imaterial representado pelo Teatro Oficina. Confira a carta aberta divulgada pela atriz.

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 "O Brasil tem um vêio de referências cultural e existencial pelo qual o rumo a seguir nos é conscientizado: Gregório de Mattos, Villa Lobos, Oswald de Andrade, Nelson Rodrigues, Glaber Rocha. Nessa linhagem está Zé Celso. O que os liga? Um clamor, um convocar, um convulsionar, um amar. E mais que amar: proclamar. Esse agir vem de uma alucinada herança ibérica, barroca, mítica, onde, no sagrado e no profano, nós nos perdemos, nos achamos. E nos salvamos.

O Zé pertence a essa temperatura, a essa pulsação. Um ser extremamente energizado, fustigante, ardido de tanta lucidez, onde a paz do conformismo, em pânico passa ao largo. O Zé tem, com relação ao Brasil, uma obstinação cultural, existêncial de lobo faminto. É um ermitão que não prega no deserto. Aliás, onde o Zé prega não há deserto. Acompanho suas declarações, suas fotos, leio suas entrevistas, admiro suas barbas, seu cajado, seus olhos de vidente. O Zé é um transformador.

A partir do Bexiga e do Oficina (esses espaços, no meu entender, são um só) o Zé se espraiou por muitas zonas e muitas gerações. A partir desse Bexiga, dessa Oficina, o Zé nos traz o desassossego mais provocador, mais tronitoante, mais triunfante de São Paulo e do Brasil culturalmente falando. O Oficina dá ao Bexiga a dimensão da inquietação da Arte na vida e projeta esse bairro à altura da Cidade de São Paulo e do País. O Oficina é um marco histórico, cultural, visceral de uma Cidade, de um Estado.

O que pretendem por no lugar? A desgraça do nada? A lama do nada?
"Das profundezas clamamos por vós Senhor. Senhor, ouvi as nossas vozes. Se observardes as iniquidades, Senhor, quem subsistirá?"

Fernanda Montenegro