Guadalupe Carniel: Dos "clichês Libertadores"

Existem os clichês. Para alguns brega, para outros um ótimo recurso para justificar algo. Mas se algo é clichê é pelo fato dele ser atemporal e isto o torna tão bom. É o que acontece com aquele “acredito em milagres” ou “a bola pune” ou ainda o clássico “sonhar não custa nada”.

Lanus futebol

Futebol tem muito disso. Estas expressões recorrentes vira e mexe se materializam no campo. Por exemplo, se eu te dissesse ontem que o Lanús iria vencer o River de Gallardo, provavelmente você não acreditaria.

Ontem, o Lanús aquele que já jogou uma série C, tinha estádio de madeira até o início dos anos 2000 (em 2003 inaugurou La Fortaleza de cimento) chegou à final após vencer em casa o River Plate por 4-2, revertendo o resultado da primeira partida, vencida pelos River por 1-0.

Mas claro, estamos falando de Argentina. E lá as partidas são místicas. Há raça, aguante, lágrimas, superação contra tudo e todos e claro, polêmica. Pela primeira vez foi usado o VAR (sistema de vídeo que tanto tem dado o que falar).

Bom, mas vamos falar da peleja. A torcida em bom número dizia “Que vamos a salir campeones” mesmo com o resultado adverso, cabendo aqui o “sonhar não custa nada”. O River começou vencendo por 2-0 com gols de Scocco e Montiel e com isso aquilo que muita gente aqui já cantava: River na final com o Grêmio. 

Mas aí aconteceu algo que todos os que pregam a lógica  não combinaram:  o árbitro não deu um penal claríssimo para o time de Gallardo. Nem o pessoal do VAR avisou o árbitro. Com este fato parece que o Lanús viu sua chance: Sand no último minuto do primeiro tempo fez um gol para a equipe grená.

Na segunda etapa o árbitro marcou um pênalti a favor do Lanús, desta vez sim, com a ajuda do recurso de TV e Sand empatando. Então Acosta virou para 3-2. E daí, de novo com a ajuda do VAR, Lanús conseguiu a vitória por 4-2.

A partida inteira em si deveria ser considerada um milagre. Para quem começou vendo que seria o óbvio, o time grande massacrando o pequeno, viu um time que soube manter a calma na adversidade e mostrar o maior defeito do River: a defesa que sucumbiu ao Lanús liderado por Sand com seus 37 anos jogar extraordinariamente bem, fazendo três gols.

Pela primeira vez na história, Lanús é finalista da Libertadores. Mas ao contrário do que muita gente pensa, nada disso é “oh, o futebol respira” ou “é mais do que um jogo” ou essas groselhas que bradam os pseudo-entendedores de futebol que brotaram nos últimos anos.

Nos últimos 20 anos o time grená conquistou 6 títulos, organizou sua diretoria, tem finanças estáveis além de investir no clube, o que faz com que chegue a ter 35 mil sócios. E com isso pode vir a consagração máxima, a Libertadores.

Claro, houveram erros crasos e grotescos na peleja com o mau uso do árbitro de vídeo. Mas o River para quem não se lembra está envolvido naquele esquema de escândalos de dopping que vieram à tona no começo do ano. Aí cabe aquela clássica, a bola pune. E pra quem falou que o árbitro de vídeo seria a solução de todos os erros do futebol taí o tapa na cara. Enquanto não houver seriedade no trato e profissionalização dos árbitros, os erros seguirão aí. Com tecnologia, dinheiro, ou o que for.

É clichê falar que argentino é puro aguante e que vive de futbol e carnaval? Pode até ser. Mas é a realidade que o futebol materializou e hoje vivem pelo menos 40 mil granates de Lanús.

Assista aos melhores momentos do jogo: