”A gente devolve o racismo com cultura”, diz Paulo Lins

Autor do livro ”Cidade de Deus” conversou com o site da UNE durante a 5ª Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra na Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo

Paulo Lins - Flickr / Prefeitura de Votuporanga

Paulo Lins ganhou o mundo e levou a favela para o mundo ao escrever o livro ”Cidade de Deus”, em 1997, um romance cru com exposições reais do cotidiano cultural e social dos habitantes da comunidade da Zona Oeste carioca. Em São Paulo para a 5ª Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra na Faculdade Zumbi dos Palmares, evento em que foi homenageado como patrono, o escritor que já foi da UNE nos tempos que participava do DCE da UFRJ, bateu um papo com o site da UNE e falou sobre redução da maioridade penal, desigualdade e a importância do Dia da Consciência Negra.

”Se não tivesse desigualdade social, se não tivesse essa mortandade de negros, a semana da consciência negra não precisaria existir. Só existe por causa disso. Aí a gente devolve o racismo com cultura, a gente devolve com carinho, amor e beijo. A cultura é a nossa expressão de conseguir a igualdade nesse país”, falou.

Confira a entrevista na íntegra:

A Juventude negra é que mais morre no páis e paralelo a isso temos um projeto em curso de redução da maioridade penal. Qual a sua opinião sobre o assunto? 

Vão matar mais gente, vão prender mais gente, vão botar os negros na cadeia e no cemitério. É uma coisa que o Brasil já faz há anos e quer continuar fazendo com mais intensidade. Ao invés de reduzir a idade penal seria muito melhor mais trabalhos sociais, mais distribuição de renda, melhorar as escolas. A questão da escola pública ser ruim no Brasil é um projeto, não é uma dificuldade. Eles fazem porque querem, todos os governos fazem isso porque querem. É pra manter os pobres e os negros numa situação de escravidão moderna.

O que significa pra você um evento como esse para celebrar a cultura e a literatura negra?

Eu tô feliz por estar aqui , por estar participando disso e celebrando não só a cultura negra, mas a força que o negro encontrou pra chegar até aqui e continuar lutando.

Muitos jovens e crianças prestigiando seu trabalho hoje e se inspirando no seu exemplo. Qual recado que você dá pra essa juventude?

Sejam mais inteligentes, isso pros brancos. E não sejam racistas. Pros negros, continuem lutando com muito amor e muita paz que a gente vai chegar lá.

Qual a importância do dia da consciência negra? Temos esse miuto de igualdade racial aqui no Brasil e gostaríamos que você comentasse um pouco sobre isso.

A semana da consciência negra não deveria existir. Se não tivesse desigualdade social, se não tivesse essa mortandade de negros, se não tivesse tanto tempo de escravidão e de escravidão moderna, de polícia batendo em negro, matando negro, não precisaria existir. Só existe por causa disso. Aí a gente devolve com cultura, a gente devolve com carinho, amor e beijo. A cultura é a nossa expressão de conseguir a igualdade nesse país.