“Vou enfrentar o ódio com propostas”, afirma Manuela ao Canal Livre

A pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, Manuela D’Ávila (RS), foi a convidada do programa Canal Livre, na Band, nesta segunda-feira (4). A entrevista é parte de uma série do programa feita com os possíveis candidatos à presidência.

Por Dayane Santos

Manuela Canal Livre - Divulgação

Apresentado por Ricardo Boechat com a participação dos jornalistas Fernando Mitre, Fabio Pannunzio e Julia Duailibi, o programa durou cerca de uma hora. Boechat iniciou a entrevista resgatando que a última vez que um candidato largou nas pesquisas com 2% – índice que Manuela atingiu segundo Datafolha – e ganhou foi Leonel Brizola, há 35 anos, que emplacou uma vitória histórica se elegendo governador do Rio de Janeiro. A lembrança foi para questionar quais são as perspectivas de Manuela para 2018 e saber se a candidatura é para valer.

“É uma excelente comparação. Lembrar Brizola é lembrar da luta pela educação pública”, pontuou Manuela. “Essa é minha sétima candidatura e em todas diziam que eram candidaturas impossíveis de ser vencedoras. E eu sempre entro nelas com convicção de que conversando com as pessoas e estabelecendo um diálogo sobre o futuro, sobre o projeto e as perspectivas que a política pode ter para transformar a vida das pessoas é possível vencer”, declarou.

“Nossa candidatura é pra valer”, reafirmou. Não satisfeita com a resposta, a jornalista Julia Dualibi questionou se a candidatura não era apenas para que o PCdoB atingisse a cláusula de barreira. Manuela lembrou que o partido tem 95 anos de história, sendo a terceira vez que lança candidatura à presidência.

Cláusula de barreira

“Sempre tivemos ameaçados pela cláusula de desempenho. Em 2006, na primeira eleição para deputada federal, na qual fui a mais votada pelo meu estado, fui lançada candidata para contribuir com a cláusula de desempenho, nem por isso, nós lançamos candidato à presidência. A nossa candidatura, assim como a de outros partidos, sempre ajudam na construção de bancadas. Mas o propósito dela é debater saídas para a crise que o Brasil vive”, defendeu Manuela.

Ela reforçou que não há contradição entre o PCdoB marcar posição com a sua pré-candidatura e vencer a eleição. “Sim, nós queremos marcar posição e queremos que 2018 o povo debata saídas para a crise. Não nos adianta ter uma eleição que debata o ódio e o medo do povo brasileiro”, declarou.

Ao ser questionada sobre os motivos que levaram o PCdoB a lançar candidatura, já que nas outras eleições sempre apoiou o PT, Manuela enfatizou que após “o golpe de 2016, abriu-se um novo ciclo político e nós interpretamos que era apropriado lançar uma candidatura para apresentar as nossas opiniões”.

Sobre a proposta de frente ampla para a construção de um projeto nacional, Manuela destacou que se trata de promover o debate não somente com os partidos, mas com o conjunto da sociedade. 

“A amplitude da nossa frente tem relação com o que é necessário para enfrentar essa crise. E nós achamos que é necessário dialogar com as pessoas comuns. O povo brasileiro se mobilizou intensamente na última década. Mas também com os economistas, com aqueles que acreditam numa indústria nacional. É um esforço para a construção de um pacto pelo desenvolvimento do Brasil”, asseverou.

Direita quer ser centro

Ao abordar as movimentações dos partidos, Manuela afirmou que há uma tentativa de candidatos da direita se colocarem como candidatos de centro, como se fossem a única alternativa para a crise. 

“Estamos na iminência de uma eleição em que há um candidato que serve como balão de ensaio para uma extrema direita, uma espécie de organizador do medo e do ódio, para alternativas que são de direita, pois defendem a diminuição absoluta do Estado, se passando como centro”, frisou.

No segundo bloco do programa, Manuela foi questionada sobre os temas que devem ser centrais para 2018. No que se refere à economia, Manuela defendeu o fortalecimento do Estado como indutor das políticas econômicas. 

Ela reforçou que é uma mentira quando o governo de Michel Temer e sua base aliada dizem ser possível manter políticas sociais com a Emenda 95 (teto dos gastos públicos) em vigor.  

“A gente precisa ter no Estado o parceiro para garantir a igualdade de oportunidade das pessoas. Isso significa educação pública, saúde pública. A conta também não fecha do lado de cá. Como o trabalhador paga o plano de saúde privado? A escola privada para o seu filho?”, indagou.

Apontando o deficit nas contas públicas que chega a R$ 160 bilhões, os jornalistas a indagaram como pretende promover políticas sociais se não há dinheiro nos cofres públicos. “São prioridades do gestor. O Brasil paga milhares em juros para a dívida pública e não investe em seu povo. A nossa tributação pune ao mais pobres”, respondeu.

Ser comunista 

“O que é ser comunista no século 21?”, questionou Fabio Pannunzio. “Eu acredito que o homem não precisa ser o lobo do homem. Que nós podemos viver em condições de igualdade”, afirmou Manuela.

“Apenas manter uma cota de utopias aceitáveis. Não há mal nenhum nisso, né? Tô dentro!”, emendou o apresentador Boechat antes de encerrar o terceiro bloco.

O terceiro e último bloco do programa retomou o tema do que é ser comunista. Fernando disse que a definição apresentada por Manuela pode ser a mesma feita por um liberal. “Eu não concordo no mérito, porque o neoliberalismo não gerou mais igualdade no mundo. Não gerou igualdade de oportunidades”, rebateu Manuela.

Ao ser questionada sobre como vai enfrentar o ódio e a intolerância nas redes, Manuela respondeu: “Vou enfrentar o ódio com propostas, como já enfrentei nos últimos anos. É óbvio, sou uma mulher, tenho 36 anos, vou enfrentar mais preconceito com montagens virtuais do que os outros candidatos”.

E finalizou: “Acho que o povo brasileiro é muito maior do que esse ódio criado nas redes. O nosso povo vive o medo sincero da crise que tira a nossa perspectiva. Mas no processo eleitoral, a minha expectativa é de que a gente vai conseguir tirar essa nuvem da visão e vamos debater a partir de propostas”.

“Tá claro nessa realidade que se o povo brasileiro fosse movido a ódio, o circo já tinha pegado fogo há muito tempo”, emendou Boechat.