Copom deve cortar de novo os juros, mas economia segue patinando

 Taxa básica deve cair amanhã para seu menor nível histórico, mas indicadores não autorizam discurso ufanista do governo sobre retomada, em um país profundamente desigual.

emprego informal

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) abriu na manhã desta terça (5) a sua última reunião de 2017, a 211ª da história, com aposta quase unânime do "mercado" em nova redução da taxa básica de juros, a Selic, desta vez de 0,5 ponto percentual. Isso levaria a Selic ao seu menor nível histórico, 7% ao ano. E seria o décimo corte seguido, em pouco mais de um ano. O resultado sai amanhã, no início da noite.

Em termos reais, descontada a inflação, o avanço foi pequeno. Em setembro de 2016, a taxa básica estava em 14,25%, para uma inflação (IPCA) acumulada em torno de 8,5%, o que levava o juro real a 5,3%. Hoje, os juros são de 7,5%, enquanto o IPCA em 12 meses é de 2,7%, o que dá algo próximo de 4,7%.

Em que pese o discurso ufanista do governo, endossado por parte da mídia, os indicadores podem não estar ruins, mas não autorizam tanto otimismo. A indústria oscila – em outubro, por exemplo, segundo resultado divulgado hoje, avançou apenas 0,2% ante o mês anterior. Teve crescimento de 5,3% sobre outubro do ano passado, o que merece ainda acompanhamento. No trimestre, a variação foi negativa (-0,1%).

O varejo também alterna resultados. As vendas cresceram 0,5% em setembro, mas haviam caído 0,4% no mês anterior. O trimestre ficou estável, ligeiramente positivo (0,1%). Houve crescimento de 6,4% sobre setembro do ano passado, enquanto em 12 meses, o IBGE apura queda de 0,6%.

Também não se pode dizer que o mercado de trabalho melhorou, ainda que a taxa de desemprego no país tenha diminuído para 12,2% no trimestre encerrado em outubro. O número de desempregados segue alto (12,7 milhões) e as vagas criadas são predominantemente informais, com menor rendimento.

Emprego informal

Segundo o próprio IBGE, uma das principais contribuições para essa redução veio do emprego doméstico, que cresceu 2,9% em três meses, abrindo 177 mil vagas. De um total de 868 mil ocupações a mais, 326 mil eram trabalhadores por conta própria, 254 mil, empregados do setor privado sem carteira assinada e 177 mil domésticos.

"Quando o trabalho doméstico sobe pela formalização é positivo. No entanto, na conjuntura atual, as pessoas estão buscando trabalho doméstico, na maioria das vezes sem carteira, por falta de espaço na economia formal", disse na semana passada o gerente da pesquisa do IBGE, Cimar Azeredo.

Na semana passada, o instituto anunciou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que variou 0,1% sobre o segundo. "Depois de dois anos de recessão, 2015 e 2016, nos quais o PIB acumulou uma queda de 7%, 2017 aponta para uma estagnação", afirmam, em artigo, os economistas Antonio Corrêa de Lacerda e André Paiva Ramos. "A questão é que faltam vetores para acelerar o crescimento", acrescentam, lembrando, por exemplo, que o nível atual do investimento é 30% menor do que em 2013.

Eles apontam um quadro de recuperação lenta, com alta de apenas 0,5% no PIB este ano, podendo acelerar se houver mudanças na política econômica e estímulos à atividade. Algo difícil de imaginar com o atual governo.

"Assim, o nível atual da economia brasileira se revela muito longe do já alcançado em 2014, antes da crise", dizem Lacerda e Ramos. "O PIB é 7% inferior, a indústria 10,7% mais baixa e os investimentos 26% abaixo de 2014!"

O Brasil segue sendo um país profundamente desigual. Relatório recente da organização Oxfam mostrou, por exemplo, que os seis mais ricos do país concentram a mesma riqueza que 100 milhões de pessoas, metade da população. Ou os 5% mais ricos detêm a mesma fatia que os demais 95%.