Temer fala em “legado”, enquanto joga 5,4 milhões na pobreza extrema

Durante evento do PMDB, nesta segunda-feira (18), Michel Temer, que impõe uma agenda de retrocesso ao país, se coloca como vítima e diz que enfrentou “oposições ferozes” ao longo de seu governo e diz que está fazendo uma “revolução”.

Cunha e Temer - Antonio Cruz/Agência Brasil

“Estamos falando de um governo que tem pouco mais de um ano e meio com todas as oposições, digamos assim, ferozes, que foram realizadas ao longo desse período. A primeira delas, me recordo, foi dizer que teve um golpe”, afirmou.

No dia em que o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), aponta que mais de 9 milhões de brasileiros caíram, em 2015, para abaixo da linha de pobreza (US$ 5,50 per capita por dia ou R$ 387,07 mensais), em decorrência da deterioração do emprego e da renda, Temer afirma que seu governo ousou “fazer uma revolução na política administrativa e econômica do nosso país”.

De acordo com os dados, dos 9 milhões de brasileiros, 5,4 milhões se enquadram no critério do Banco Mundial para extrema pobreza. Vivem com menos de US$ 1,90 por dia ou R$ 133,72 por mês. As informações, publicadas pelo Valor Econômico, são baseadas na Síntese de Indicadores Sociais, documento elaborado pelo IBGE a partir da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Mas Temer discursa para tentar construir a retórica da vítima. Primeiro, ele e seus aliados dizem que foram vítimas da ação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que ao denunciá-lo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, estava tentando “derrubar o governo”. Segundo, diz que a oposição o ataca, enquanto encaminha projetos que retira direitos consagrados como foi feito com a reforma trabalhista e a proposta de mudança da Previdência.

Diferentemente do discurso, a realidade dos fatos evidencia que não se trata de retórica da oposição a acusação de golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff que levou Temer ao poder. Diversos flagrantes, como a gravação de Romero Jucá, na qual falou em “estancar a sangria”, demonstraram aos brasileiros as manobras e articulações da sua base aliada.

Ele mesmo confessou, em entrevista na Band, que o impeachment de Dilma aconteceu porque ela e o PT se recusaram a participar de um pacto para salvar a pele do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), ou seja, Temer admitiu que houve desvio de finalidade e que o impeachment nada teve a ver com as tais pedaladas fiscais.

Não é à toa que Temer tem rejeição recorde e 87,4% dos brasileiros não se sentem representados por ele, segundo pesquisa.

Previdência

Derrotado na tentativa de votar a reforma da Previdência ainda este ano, Temer disse estar convicto de que a proposta será aprovada.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse em entrevista à Folha de S. Paulo neste domingo (17), que se não aprovar em fevereiro, o governo pode esquecer a reforma.

Temer também resolveu falar sobre eleições. Disse que quem for candidato à Presidência da República e se propuser a fazer um governo de reformas, terá marcado na sua campanha a tese do PMDB.

“Quem for candidato a presidente e dizer que vai continuar ou que terá um governo também de reformas, estará cravando na sua campanha eleitoral a tese do acerto do nosso governo. E estará gravado governo Michel Temer no programa que vai ser estabelecido para o futuro por nós, que ousamos fazer uma revolução na política administrativa e econômica do nosso país”, declarou.

Na entrevista à Folha, o presidente da Câmara disse que a base aliada não precisa de um candidato ao Palácio do Planalto que faça uma tatuagem “eu sou Michel Temer” na testa.