Catalunha: quando vencer as eleições não é o mais difícil

As eleições na Catalunha acontecem na próxima quinta-feira (21), e o clima é de incerteza. Os catalães irão as urnas para decidir quem tomará frente no governo da região. Se os partidos independentistas não sabem se chegarão à maioria, podem pelo menos contar uns com os outros. O Cidadãos, de Arrimadas, conta apenas com o PP

Catalunha bandeira

Com a tentativa falida de independência de Puigdemont, setores catalães mostraram-se contrários em continuar com o processo segregacionista. Após a aplicação do artigo 155 da Constituição pelo governo espanhol e a destituição das autoridades locais para tomar o controle da região, dia 21 será dia de eleição. 

Puigdemont, ex-líder catalão, continua exilado na Bélgica, já que se regressar para a Espanha será detido. Orol Junqueras, por sua vez, está preso. Ambos os dirigentes estão sendo acusados de rebelião, sediação e manipulação por impulsionar o processo que culminou na declaração unilateral de independência da Catalunha no dia 27 de outubro desse ano. Ainda assim, os partidos independentistas lançaram sua campanha para as eleições de quinta (21). 

Puidemont e Junqueras pediram para as forças independentistas para que se unam e impeçam a tomada do poder pelos setores que não apoiam a demanda da autodeterminação. 

Em uma campanha absolutamente extraordinária – os jornalistas espanhóis repetem que é a “mais estranha e difícil vivida desde 1977”, na transição do franquismo para a democracia –, todos sabem que ser o mais votado no dia 21 não significa ser capaz de governar. Depois de meses de comoção, referendos e cargas policiais, ninguém quer admitir que será necessário voltar às urnas, mas também ninguém pode garantir que não seja.

Nos últimos anos proclamou-se o fim do bipartidarismo na Espanha, com governos alternados entre o Partido Popular e o PSOE, mas a verdade é que não foi possível chegar a acordos e o PP de Mariano Rajoy governa em minoria, depois de ter tido o apoio do Cidadãos de Albert Rivera e Inés Arrimadas. Na Catalunha tudo é ainda mais complicado.

Em 2015, a coligação Juntos pelo Sim, que unia a direita do Partido Democrata Europeu Catalão (antiga Convergência) com a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) e outros pequenos partidos e independentes, tornou-se minoria no parlamento, com 68 postos de 135. Mas contou com o apoio dos dez deputados da CUP (Candidatura Unitária Popular, à esquerda da ERC).

Agora, todos se apresentam sozinhos, menos o PDeCAT, que com a lista Juntos pela Catalunha junta-se ao partido o ex-líder da Associação Nacional Catalã, Jordi Sánchez (em prisão preventiva, acusado de “sedição”) e outros independentistas. Por mais que se tente fugir à ideia dos dois blocos, o soberanista e o unionista, são essas as contas que se fazem a cada sondagem: as últimas mostram que nem um nem outro terão deputados suficientes para chegar à Generalitat.

Se a vitória couber a Inés Arrimadas, como indicam grande parte das pesquisas mais recentes, a situação pode ser ainda mais difícil. A líder do Cidadãos catalão só sabe que pode contar com o apoio do PP de Xavier García Albiol, muito provavelmente o partido menos votado. A incógnita são Miquel Iceta e o Partido Socialista Catalão – Iceta já disse que nunca investiria em Arrimadas, mas também já recusou esclarecer que posição tomará.

Não é tarefa fácil antecipar uma solução de governo com Arrimadas à frente do parlamento. O desejo do PP pode ter consequências nacionais – e se os partidos suspeitarem que haverá legislativas antecipadas não deixarão de repensar antes de decidir apoios na Catalunha. Nesse cenário, os socialistas terão uma decisão ainda mais difícil.