Economista aponta parcialidade de agências de rating e de analistas

“O deficit elevado, a dívida fora de controle e a recuperação lenta da economia parecem não ter mais nenhuma importância diante do que se tornou o centro do debate econômico no país: uma reforma da Previdência cuja economia gerada não seria sequer suficiente para viabilizar o cumprimento do teto de gastos públicos no ano que vem”, escreve a economista Laura carvalho, em artigo na Folha de S.Paulo.

Laura Carvalho

No texto, ela fala sobre o rebaixamento da nota de crédito da dívida do Brasil pela agência de classificação de risco S&P, a repercussão pouco barulhenta do tema e o tratamento dispensado ao atual governo, bem diferente de como era tratada a ex-presidenta Dilma Rousseff.

A professora da USP chama atenção para a reação do governo, de alguns analistas econômicos e da mídia, que estranhamente receberam com “relativa tranquilidade” e até “algum otimismo” a notícia. Para ilustrar, ela destaca um título do UOL: "S&P faz favor ao governo e pressiona Congresso por reforma, dizem analistas".

De acordo com ela, a maior tolerância em relação à situação da economia brasileira se estende às próprias agências de classificação de risco. Apesar de a previsão de superávit no país ter sido adiada para 2021, “a própria S&P havia optado em agosto do ano passado por manter a nota do Brasil, enfatizando ‘o cenário político (…) um pouco mais estável’”, descreve.

Laura acrescenta que o aumento do deficit primário de 1,9% para 2,5% do PIB entre 2015 e 2016 também não tinha causado rebaixamento. A boa vontade com o atual governo diverge muito da postura em relação à gestão de Dilma Rousseff. “Antes mesmo do início da crise, em março de 2014, a nota do Brasil caiu de BBB para BBB-“, lembra a economista.

“Os vultosos cortes no Orçamento na gestão de Joaquim Levy na Fazenda tampouco serviram para evitar a perda de grau de investimento, em setembro de 2015. Na justificativa para a redução da nota de BBB- para BB+, a S&P culpou "a falta de coesão" na equipe de Dilma”, afirma, lembrando que menos de seis meses se passaram até que a nota caísse de BB+ para BB.

“A percepção de que as notas de crédito refletem apenas os consensos parciais e incoerentes dos agentes de mercado só surpreende quem não acompanhou a crise de 2008 e as multas bilionárias que tiveram de ser pagas por essas agências ao Tesouro americano. Que a imprensa e os governos continuem guiando-se por esses consensos é que é algo tão vexatório quanto preocupante”, encerra.