Por um carnaval sem assédio

O carnaval está começando, e, de norte a sul do país, as mulheres acreditam que o respeito é a alegoria principal. Em 2018, as foliãs querem um carnaval sem puxão de cabelo, sem aperto no braço e sem beijo forçado, por isso, campanhas contra o assédio são fundamentais para fazer da folia um lugar seguro para todas.

Campanha não é não - UNE

Neste ano, a ”#AconteceuNoCarnaval”, vai atuar em cidades como Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, João Pessoa, Campina Grande e Ouro Preto recolhendo relatos de mulheres. A iniciativa pretende contabilizar e mapear os casos de assédio durante as festas e elaborar um relatório que servirá para pressionar o Poder Público por políticas de prevenção e de combate à cultura de assédio no carnaval. Os relatos podem ser feitos pelo whatsapp: (81) 99140-5869, de forma anônima. Quatro organizações sociais participam desta mobilização: Rede Meu Recife, Mete a Colher, Women Friendly e Minha Sampa.

”É super importante essa lógica de que a diversão deve ser igualitária. E por isso, essas campanhas colocam uma outra narrativa pra mulher no carnaval, mostram que não é só o espaço de mercantilização do corpo, mas que a diversão e a construção da festa podem ser feitas com respeito”, falou a diretora de mulheres da UNE, Ana Clara Franco.

Outra campanha realizada por um coletivo feminino é a chamada “Não é não!”. Aqui, tatuagens temporárias levam o nome da campanha para os corpos das mulheres numa clara mensagem de que o assédio começa depois do ”não”. A ideia começou em 2017, no Rio de Janeiro. Em 2018, as idealizadoras resolveram ampliar a iniciativa, buscando financiamento coletivo pela internet. O resultado deu certo e hoje já são cinco estados participantes: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia.

Em Brasília, a campanha Folia com Respeito prega a união entre as mulheres, principalmente no carnaval. Com o slogan “Uma mina ajuda a outra”, as peças da campanha orientam as foliãs a prestar atenção se outras mulheres podem estar em situação de perigo.

O assédio em números

Entre o carnaval de 2016 e 2017, os casos de violência sexual contra mulheres registrados pela Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) aumentaram 88%.

Em 2016, uma pesquisa feita pelo Instituto Data Popular, mostrou que a maior parte dos homens ainda é machista em relação à participação de mulheres nos festejos de rua.

Mais de 60% dos homens abordados afirmaram que uma mulher solteira que vai pular carnaval não pode reclamar de ser cantada; 49% disseram que bloco de carnaval não é lugar para mulher “direita”; e 56% consideram que mulheres que usam aplicativos de relacionamento não querem nada sério.

Outra pesquisa divulgada pela organização internacional de combate à pobreza ActionAid, também em 2016, mostrou que 86% das mulheres brasileiras ouvidas sofreram assédio em público em suas cidades.