Ives Gandra deixa TST mas antes veta reajuste a trabalhadores do ES

Em um de seus últimos atos no Tribunal Superior do Trabalho (TST), o ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho vetou no início deste mês o aumento de dissídio salarial acima da inflação aos trabalhadores do transporte metropolitano de Vitória, no Espírito Santo.

Temer e Ives Gandra Filho

Alegou que não houve comprovação de lucro por parte da empresa que justificasse o aumento acima dos índices de inflação.

A sentença atende a uma ação cautelar de efeito suspensivo sobre um recurso do sindicato patronal dos rodoviários, que questiona decisão anterior da Justiça que determinou o dissídio com os 3% de aumento após uma greve da categoria.

Com a decisão de Ives Gandra, o aumento aos trabalhadores foi suspenso, mas o recurso ainda será julgado no Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região e pode ser derrotado.

"O veto reflete um entendimento pessoal do ministro, mas o recurso ordinário ainda será julgado pelo tribunal", diz o assessor jurídico da CTB, Magnus Farkatt.

A sentença coroa o biênio do ministro presidente à frente do TST, que teve a sua gestão marcada por decisões unilaterais, sempre desfavoráveis aos trabalhadores, e declarações constrangedoras, tamanho o empenho em defender os interesses econômicos do patronato.

Esteve sempre em guerra com o movimento sindical, desdenhando direitos trabalhistas e atacando quem se empenhava em defender as conquistas e garantias da classe trabalhadora. Nesse dois anos, Ives Gandra defendeu com unhas e dentes a reforma trabalhista e declarou em artigos e entrevistas que era impossível criar mais empregos sem diminuir direitos dos trabalhadores.

"Ele errou não só por ferir a histórica luta da classe trabalhadora, mas também porque agrediu e defendeu retirada de direitos de uma parcela importante da sociedade que luta por emprego, salário digno e uma vida sem miséria", disse Adilson Araújo, presidente da CTB, sobre a postura assumida pelo ministro.

Defesa dos interesses empresariais

Foi de Gandra a decisão de suspender a divulgação da lista suja do trabalho escravo, com nomes de empresas condenadas pelo crime, em março do ano passado.

Em outra ocasião, em uma audiência pública no Senado, ele afirmou que as indenizações pagas em casos de acidente de trabalho deveriam ser compatíveis com os salários para evitar que os funcionários provocassem acidentes para serem indenizados. E para ilustrar, e piorar ainda mais a situação, contou a história de soldados que tiravam um dedo na mão esquerda para não irem à guerra.

O seu mandato se encerrou na sexta-feira (23) e na próxima segunda (26) toma posse o novo presidente, João Batista Brito Pereira, 65 anos. O movimento sindical saúda o novo ministro e espera retomar um diálogo saudável com o Tribunal. O presidente da CTB, Adilson Araújo, o vice-presidente Mário Teixeira e o assessor jurídico Magnus Farkatt comparecerão à audiência em Brasília.