Sindjorce recolhe relatos anônimos de estagiários explorados

O Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) está recebendo relatos de estagiárias e estagiários que são explorados em seus locais de realização de estágio. A ideia é receber o máximo de denúncias possíveis e encaminhá-las ao Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT 7ª Região) para que tome as providências cabíveis contra empregadores que exploram a mão de obra estudantil.

Sindjorce recolhe relatos anônimos de estagiários explorados

“Lugares que deveriam se tornar um ambiente de aprendizado, acabam se tornando pesadelo para estudantes de jornalismo no Ceará. Nos relatos, percebemos desde má alimentação até extrapolação da carga horária, assédio moral e substituição do profissional pela exploração da mão de obra dos estudantes”, afirma o diretor de Comunicação do Sindjorce, Nathan Camelo.

“A Lei do Estágio foi um avanço, pois antes dela não existia direito algum ao estagiário, mas ela ainda precisa melhorar muito. O pior é que, em muitos locais, ela sequer é respeitada. Estamos tentando mudar esse quadro em nosso Estado”, afirma o secretário-geral do Sindjorce, Rafael Mesquita.

Além disso, de acordo com o Art 19 do Decreto Lei Nº 83.284/1979, que regulamenta a profissão de Jornalista, “constitui fraude a prestação de serviços profissionais gratuitos, ou com pagamentos simbólicos, sob pretexto de estágio, bolsa de estudo, bolsa de complementação, convênio ou qualquer outra modalidade, em desrespeito à legislação trabalhista e a este regulamento”.

Os estudantes que quiserem relatar exploração ou assédio moral, podem enviar um e-mail para [email protected]

Confira alguns trechos de relatos já recebidos:

“Aqui há um número de estagiários maior do que a proporção permitida em lei; uma pessoa já formada está sendo mantida como estagiário(a). Somos obrigados a trabalhar um final de semana (sábado e domingo, em ambos os turnos) por mês. Além disso, trabalhamos em feriados alternados. Nosso direito de trabalhar meio expediente em período de provas não é dado. Já cheguei a ter problema intestinal de tanto nervoso que passo aqui. Meu psicológico está realmente afetado por conta do gestor”.

“Meu primeiro salário veio abaixo do combinado durante a entrevista de admissão. Era obrigado a trabalhar em feriados e não ganhava além por isso. Também tinha que fazer plantões aos sábados sem ganhar por isso.

Mesmo no início da faculdade deixavam muitas coisas sob minha responsabilidade, sentia-me bastante sobrecarregado. Chegava na redação por volta de 8 da manhã e não tinha hora para sair. Me proibiam de ligar o ar-condicionado, que só poderia funcionar a partir das 9 horas. Como a sala era completamente fechada, passava a minha primeira hora de trabalho suando bastante. Certa vez, transgredi essa regra por sentir que meu trabalho estava sendo prejudicado pela temperatura da sala. Ele acabou chegando mais cedo naquele dia, me flagrou e brigou comigo.

Só deixava o local à tarde, quando as pautas estavam completamente produzidas. Isso prejudicou bastante minha rotina acadêmica. Acabava chegado atrasado na aula todos os dias. Fora que em nenhum dos três meses que passei lá me foi oferecido almoço ou qualquer tipo de lanche. Se eu quisesse, teria que tirar dos 400 reais da bolsa que ganhava por mês. Era comum perder o horário de funcionamento dos restaurantes no entorno da minha faculdade, haja vista a hora em que deixava a emissora. Para não permanecer com fome, cansei de almoçar salgados e lasanhas, refeições calóricas e de baixo valor nutricional.

Se eu cometia algum erro, ouvia piadas e desaforos da chefe de redação, que não poupava esforços em gritar comigo e me diminuir na frente dos demais. A pressão foi tamanha que eu cheguei a adoecer. Ouvir os gritos dela me causava um desconforto intestinal tremendo, cheguei a ter uma forte diarreia durante dez dias seguidos. Hoje, reconheço que, naquela época, sofri assédio moral”.