Na Itália, imigrantes temem possível governo de extrema-direita

Hipótese de Governo liderado por Salvini, do partido de extrema-direita Liga, causa medo entre imigrantes. Os refugiados tem motivos de sobra para temer: um vendedor de rua senegalês foi morto à tiros em Florença nessa semana. Comunidades imigrantes acusam líder da Liga, que com sua coalizão de direita teve a maior porcentagem de votos e que pode vir a governar a Itália, de promover ódio contra as minorias

manifestação em Florença, na Itália

A perspectiva da Itália poder vir a ser governada por um partido com um programa fortemente anti-imigração está espalhando o receio da deportação entre as comunidades estrangeiras no país. Mas mais do que expulsões, o impacto mais imediato pode ser o aprofundamento da violência de rua contra as minorias étnicas.

Na segunda-feira (5), um homem matou à queima-roupa um vendedor de rua senegalês em Florença. As autoridades policiais disseram que o homicida, Roberto Pirrone, não foi motivado por questões raciais, uma vez que apresentava “tendências suicidas” e aparentava um estado de confusão, segundo a Reuters.

Desde então centenas de pessoas têm saído às ruas em Florença contra o racismo e contra a promoção de hostilidade sobre os imigrantes, feita por partidos como a Liga – a formação de extrema-direita que foi a terceira mais votada nas eleições legislativas de domingo (4). Na terça-feira (6), cerca de 500 pessoas marcharam sobre a ponte onde ocorreu o homicídio de Idy Dienec enquanto lançavam palavras de ordem contra Matteo Salvini, o líder da Liga e potencial primeiro-ministro.

Em fevereiro, um ex-candidato local da Liga disparou indiscriminadamente sobre todos os negros que encontrou na rua, ferindo seis pessoas. Quando foi detido pela polícia, o homem estava envolvido em uma bandeira italiana enquanto fazia uma saudação fascista.

A imigração foi um dos temas centrais da campanha eleitoral, no país que está na linha de frente da crise europeia de gestão dos milhões de requerentes de asilo que nos últimos anos tentaram atravessar o Mar Mediterrâneo para chegar à Europa. Desde 2013 chegaram mais de 600 mil pessoas na Itália, quase sempre em embarcações frágeis e partindo da costa líbia. A recusa de vários países da União Europeia em receber, abrigar ou auxiliar refugiados obrigou a Itália, assim como a Grécia e outros países nas fronteiras externas do espaço comunitário, a lidar com uma pressão migratória com poucos recursos nas últimas décadas.

O desfecho das eleições de domingo (5)– em que nenhum partido conseguiu a maioria – pode catapultar Salvini para a liderança do próximo governo, com o apoio do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Na mente de muitos imigrantes na Itália está vagando a promessa de Salvini de expulsar “600 mil imigrantes ilegais”.


“Acompanhei a campanha eleitoral italiana com muita atenção, e quase todos os partidos, especialmente os da direita como a Liga, culpam-nos pelos problemas econômicos e ameaçam com a deportação”, diz ao Guardian Zak, um imigrante de 17 anos que veio da Gâmbia.

O atraso das negociações para a formação do governo, e até a falta de recursos para que as expulsões possam ser processadas, sugerem que Itália não irá começar a deportar imigrantes em massa a curto prazo. Porém, o medo de algumas das comunidades mais frágeis da sociedade italiana já ganhou raízes. “O medo provocado pela propaganda da direita italiana entre os migrantes, especialmente os menores, é imperdoável”, diz ao Guardian a voluntária Agata Ronsivalle.