Julieta Palmeira: #RespeitaAsMina

No mês em que se celebra a luta mundial das mulheres por equidade de gênero, as brasileiras se mobilizam pela democracia e para manter as suas conquistas.

Julieta Palmeira - Foto: Divulgação

Recentemente, me deparei com o resgate de uma parte do discurso de posse da presidenta Dilma Roussef , em 1 de janeiro de 2011: “Venho para abrir portas para que muitas outras mulheres, também possam, no futuro, ser presidenta e para que –no dia de hoje- todas as brasileiras sintam orgulho e a alegria de ser mulher. A presidenta eleita foi afastada pelo golpe parlamentar, jurídico e midiático e hoje vivemos momentos cruciais para a democracia brasileira. A democracia foi subtraída e com ela a expectativa de se iniciar, naquele momento, a construção de um país sob a liderança de uma mulher.

A onda neoliberal constitutiva do golpe, suprime a democracia, subtrai os direitos trabalhistas e dilapida o patrimônio nacional. E as mulheres são as mais atingidas. A Reforma Trabalhista aprofunda a situação de vulneralibilidade da inserção de parcela significativa de brasileiras no mercado de trabalho. Penaliza as mulheres com a instituição do trabalho intermitente, naturalizando o trabalho precário. As trabalhadoras domésticas recentemente tiveram direitos conquistados e já se encontram sob ameaça. As brasileiras, em especial as trabalhadoras rurais, serão afetadas em seus direitos, se for aprovada a Reforma da Previdência. Essa nefasta proposta acaba na prática com a aposentadoria e não considera a existência da dupla jornada de trabalho que traz sobrecarga para as mulheres.

Sem dúvida há necessidade de acabar com a dupla jornada das mulheres, que no Brasil, implica em 7,5 horas semanais a mais do que a jornada de trabalho dos homens. Mas, não se pode ignorar esse fato enquanto ele existir. As politicas públicas para mulheres, conquistadas com muita luta, estão em queda livre, sufocadas por contenção orçamentária e pela supressão dos espaços representativos das mulheres na gestão em âmbito federal com fusão de ministérios.

Para completar, a dimensão do conservadorismo se amplia e se revela de forma escancarada, buscando a perpetuação da secular desigualdade de gênero, do sexismo e do patriarcado na sociedade capitalista, aonde às mulheres é destinado o papel de submissão ao homem. E o machismo se sustenta no mando. Essa é a raiz da violência de gênero que tem afetado a vida das mulheres, quando não lhes subtrai a vida pelo feminicido. Os indices de violência contra as mulheres, em especial do feminicidio, podem ser comparados aos de uma guerra civil. E as evidências indicam o entrelaçamento, a intersecção entre gênero, raça e classe constituindo o sistema de desigualdade que atinge, em especial, as negras. Essas brasileiras tem alertado para isso e se destacam numa crescente mobilização.

As brasileiras resistem em luta por eleições livres e democráticas em 2018, ampliação da representação feminina nos espaços de decisão na sociedade, destacadamente na politica, para que se possa não somente dar visibilidade ao protagonismo feminino na construção da democracia e do pais, mas de forma mais célere por fim à cultura machista. Nós, brasileiras, queremos conquistar o direito de decidir sobre nossos corpos e garantir nossos direitos sexuais e direitos reprodutivos. Na agenda da nossa luta esta um novo projeto de desenvolvimento do pais com a marca do feminismo.

RespeitaAsMina significa enfrentamento ao machismo, racismo e ao capital para promover o avanço. Resistência pela democracia e pela vida!