População de Fortaleza convive com a insegurança e o medo

Não mais importa nem a hora nem a região. O sentimento de medo domina a população de Fortaleza, que vê crescer os casos de violência em toda a cidade. O Vermelho Ceará percorreu alguns bairros da capital cearense e ouviu pessoas que ratificaram o constante sentimento de insegurança. Em comum, o pedido para não serem identificadas.

Violência - Fortaleza

Da Praia do Futuro à Barra do Ceará; de Messejana ao Conjunto José Walter; quer seja andando de carro ou em transporte coletivo; quer esteja em área nobre ou em comunidades carentes; quer seja na faculdade ou parado no trânsito; nas conversas em família ou em diálogos do trabalho. O medo assusta os moradores da quinta cidade mais populosa do Brasil, considerada pela ONG Seguridad, Justicia y Paz, a sétima cidade mais violenta do mundo.

Para dimensionar a violência, a pesquisa considera a taxa de homicídio de 2017 de cada local, considerando o número de assassinatos em proporção à população do município. O estudo da ONG mexicana aponta, em Fortaleza, que a taxa de homicídio foi de 83,48 para cada mil habitantes. A pesquisa constatou ainda um "disparo" da violência em Fortaleza entre 2016 e 2017. A taxa de assassinatos na capital subiu de 44.98 para 83.48 no período, um aumento de 85%.

Os dados alarmantes não levam em conta os recentes casos na capital, cometidos neste ano: a recente Chacina da Gentilândia, onde sete pessoas foram mortas e outras sete ficaram feridas; o caso envolvendo três mulheres que foram esquartejadas e decaptadas em um mangue; a Chacina das Cajazeiras, em janeiro, com 14 mortos, e tantos outros mais que, diariamente fazem aumentar os índices de violência.

O estudante L.A, 23 anos, que pediu para não ser identificado, diz temer sair de casa e enfrentar o medo por necessidade. Aluno da UECE, ele recorda os casos de balas perdidas com colegas que perderam a vida ao sair da universidade. “A gente sai, mas nunca sabe se vai voltar. É preciso enfrentar e seguir, apesar do medo”.

Numa parada de ônibus da Avenida 13 de Maio, próximo ao local da Chacina da Gentilândia, a diarista, apressada, lamentou não poder falar. “A gente se sente refém de tudo. O silêncio, de certa forma, nos protege”.

O sentimento é compartilhado por E.S, 35 anos. A auxiliar de serviços gerais afirma ficar angustiada sempre que está próximo da hora de voltar para casa. Moradora do Barroso, região perto de onde também aconteceu um caso extremo de violência, a Chacina das Cajazeiras, o medo é companhia. “Tenho receio de descer na parada do ônibus, de passar pela favela até entrar em casa. Fico assustada quando sinto que vem alguém atrás de mim, tenho medo de ser confundida com alguém. A noite, dificilmente se vê gente na rua. Chego em casa, tranco minhas portas e pronto”. Ela afirma ainda que a apreensão não está só lá. “Tenho medo em qualquer lugar. Nas paradas de ônibus, evito ficar perto de gente desconhecida pois, a qualquer momento, podemos também ser alvo. Nunca sabemos quem está do nosso lado”, pondera.

O tempo passou, mas o medo dos moradores da Grande Messejana não diminuiu. Foi lá que, em novembro de 2015, aconteceu a chamada Chacina do Curió. Foram 11 mortos, com idades entre 16 e 19 anos. Uma fonte que pediu para não ser identificada disse que o sentimento continua sendo de “total insegurança”. “Antigamente, a gente gostava de colocar as cadeiras nas calçadas. Nossa preocupação com as crianças era só com os movimentos dos carros nas ruas. Hoje em dia, os moradores se privam e estão trancados em casa. Temos medo de tiroteios, balas perdidas, ninguém sabe onde vão acontecer os próximos crimes, nem que horas, nem quem vão querer atingir”, lamenta. Mesmo após mais de dois anos do massacre, a fonte diz sentir um “clima pesado” no bairro. “Ninguém acredita mais no que as autoridades dizem, quando afirmam estar ‘tudo sob controle’. Essas brigas entre facções deixam a gente ainda mais transtornados. Viver com paz de espírito hoje em dia está complicado”, constata.