Movimento Brasil Metalúrgico aponta caminhos para a reindustrialização

A Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil marcou presença no Fórum Social Mundial (FSM) 2018, que acontece em Salvador (BA), de 13 17 de março. Além de participar da marcha de abertura e de outras agendas do evento, a Federação promoveu o debate “A Indústria e as Perspectivas da Classe Trabalhadora – Resistência, Luta e Desenvolvimento”.

Por André Cintra

Fitmetal lança revista e manifesto pela reindustrialização no Forum Social Mundial em Salvador - Fernando Damasceno

Durante a atividade – que ocorreu na quarta-feira (14/3), na Tenda das Centrais Sindicais, instalada no campus Ondina da UFBA (Universidade Federal da Bahia) –, o presidente da FITMETAL, Marcelino da Rocha, fez o lançamento de dois documentos: a revista especial “Indústria, Desenvolvimento e Trabalho” e o “Manifesto da Categoria Metalúrgica – Em Defesa da Reindustrialização e do Desenvolvimento do Brasil”.

“Com a revista e o manifesto, reafirmamos, ainda com mais ênfase, nossa luta para reverter a desindustrialização em curso no País desde a década de 1980 – e acentuada com o golpe de 2016”, declarou Marcelino. “Se mantiver a política macroeconômica atual, o Brasil não voltará a crescer e se desenvolver de modo consistente. É preciso reforçar o papel do Estado, elevar a taxa de investimento e apostar na reindustrialização do País”, agregou o dirigente.

Ao lado dos pesquisadores Uallace Moreira (UFBA) e Ana Georgina (Dieese), de dirigentes de cinco centrais sindicais (CTB, CUT, Força Sindical, Nova Central e UGT) e de representantes do sindicalismo internacional, Marcelino destacou a importância da campanha Brasil Metalúrgico. “Conseguimos unir as mais diversas forças e correntes sindicais da nossa categoria em um movimento forte e vitorioso. Partindo das bases que construímos, temos de avançar na defesa de um Contrato Coletivo Nacional de Trabalho para a categoria metalúrgica, com data-base única em todo o País, campanha salarial unificada e piso nacional”, disse o presidente da FITMETAL.

A indústria nacional em xeque

Outros oradores também enfatizaram os riscos da desindustrialização da economia brasileira. “A participação da indústria no PIB está voltando aos patamares da década de 1940. E olha que nossa indústria só começou a evoluir a partir dos anos 30”, afirmou Uallace Moreira. Na opinião do professor da UFBA, falta investimento e visão nacional para fortalecer o setor produtivo. “Não há no mundo – ou, pelo menos, nunca houve até hoje – nenhuma experiência de Nação que adotou uma política industrial nacional à margem de seu Estado.

Para Ana Georgina, nem mesmo o fim da recessão vivida pelo Brasil entre 2014-2016 pode ser “reverenciado”, diante dos números da economia e da desindustrialização. “O governo comemora o crescimento de 1% do PIB, mas não leva em conta que o desemprego está em dois dígitos e que a taxa de investimento caiu a 15%. Não é um cenário promissor.” A economista do Dieese defendeu a adoção de uma política para a indústria – “o único setor capaz de ter produtos com alto valor agregado, impulsionar o conjunto da economia e ainda gerar empregos de maior qualidade”.

"Temos de avançar na defesa de um Contrato Coletivo Nacional de Trabalho para a categoria metalúrgica, com data-base única em todo o País, campanha salarial unificada e piso nacional”, disse o presidente da FITMETAL
Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, vinculada à Força Sindical), denunciou a desnacionalização da economia sob o governo Temer. “O Brasil dá isenções para empresas de fora, que só criam empregos aqui para apertadores de parafuso”, afirmou. Segundo Miguel, o Brasil precisa de “um plano nacional de desenvolvimento em que os trabalhadores brasileiros participem”.

Já Paulo Cayres, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), criticou os impactos da operação Lava Jato sobre a indústria nacional e os trabalhadores. “Sob o pretexto de combater a corrupção, a Lava Jato quebrou as empresas brasileiras. Em média, cada prisão efetuada pela operação, com provas ou sem provas, representa a perda de 22 mil postos de trabalho”, afirmou o sindicalista. Cayres acrescentou “é necessário – e é perfeitamente possível – punir os corruptos sem atacar o setor e os empregos”.

Delegação estrangeira

Representantes do sindicalismo classista internacional estiveram presentes no debate da FITMETAL no FSM. Francisco Sousa, o Chico, secretário-geral da União Internacional Sindical de Metalúrgicos e Mineiros (UISMM), convidou os brasileiros para o congresso da entidade, que será realizado em julho, no Cairo (Egito).

Também fizeram saudações ao público o cubano Emilio Perez, da Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC); o basco Koldo Saenz, do Comitê de Trabalhadores Patriotas (País Basco); e o português Maurício Miguel, da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN).