Movimentos se mobilizam em Fórum contra mercantilização da água

"É preciso que toda a nação se una para defender a água", conclama Kamu Dan, liderança indígena do povo Wapixana, que habita o leste do estado de Roraima. Dan foi apenas uma das diversas vozes que clamaram pela defesa de um dos mais importantes recursos naturais do planeta durante a Assembleia Popular das Águas. A atividade marcou a abertura do Fórum Alternativo Mundial das Águas (Fama), na manhã deste sábado (17), em Brasília.

Fórum Alternativo Mundial das àguas 2018 - José Eduardo Bernardes/ Brasil de Fato

“Nós estamos no mesmo planeta, que está sendo destruído pela ganância de empresas multinacionais. Nos nossos territórios ainda há reserva de água, porque existe a mata, exista a floresta. Não vai ser o povo sozinho que vai defender, é toda uma nação”, afirma a liderança indígena.

O Fama será a grande oportunidade para que essas vozes que lutam pela água como um direito e não uma mercadoria – lema do evento – possam ser ouvidas. O evento acontece paralelamente ao Fórum Mundial da Água, que também é realizado em Brasília, mas que tem sua organização articulada por governos e empresas interessadas na gestão dos recursos hídricos, entre elas a Ambev, a Nestlé e a Coca-Cola.

Ao contrário do Fórum Mundial da Água, o Fama é organizado por movimentos populares e entidades socioambientais de mais de 38 países. Eles discutirão os caminhos para a preservação da água até o dia 22 de março. Além das mesas oficiais que acontecem a partir desta segunda-feira (19), no Parque das Cidades, outras 170 atividades autogestionadas estarão espalhadas pela capital federal.

Segundo Kamu Dan, as empresas que participam do Fórum Mundial devem estar atentas aos riscos que o planeta corre. “Que eles entendam que não podem destruir as matas e nascentes. Quando faltar água, vai faltar para todo mundo”, alerta.

O senador Jorge Viana (PT-AC) explica que o Fama é um espaço importante para discutir os rumos da água. É no Fórum Alternativo, conta o senador, que estão representados os verdadeiros atingidos pela escassez de água.

“São dois fóruns: um institucional, das corporações, e esse outro, que é o Fama 2018. Aqui é mais legítimo, são as pessoas que estão preocupadas com a vida no planeta”, afirma.

O organizador do Fórum Alternativo, Thiago Ávila, lembra que o evento será importante para ouvir relatos de lutas e resistências pela água e ressalta o caráter popular do evento.

“Diversas pessoas vieram aqui para dizer que água não é mercadoria e que nós vamos resistir contra a exploração do planeta. O fórum das corporações tem 102 milhões de euros dedicados a ele. Nós construímos um evento militante, colaborativo, através do entusiamo e do coletivo”, destaca.

O Fama é majoritariamente financiado por doações. É possível contribui com a iniciativa no site do evento.

Saia justa

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, esteve no Centro Comunitário da Universidade de Brasília (UnB), que sediou a Assembleia Popular das Águas neste sábado (17). A presença de Dodge, no entanto, foi alvo de críticas.

Durante sua fala, ao explicar o engajamento do Ministério Público Federal em ações de mitigação de desastres naturais, a procuradora ouviu vaias e foi chamada de golpista. O público reunido na Assembleia também entoou gritos de “Fora Temer”.

Dodge deixou o Centro Comunitário sem falar com a imprensa, assim como o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Herman Benjamin, que acompanhava a procuradora.

O Fórum Alternativo segue até o dia 22 de março. Para obter mais informações, acompanhe a cobertura especial do Brasil de Fato, direto da capital federal.