Eliziane Colares: Sobre Marielles e Penhas

É bem provável que Marielle Franco não tenha sido assassinada porque era mulher. Mas despertou comoção mundial pela forma brutal como foi morta uma mulher que subverteu o sistema e não se calou diante do medo. Isso trouxe à tona toda uma história de luta de uma maioria. As mulheres são uma maioria com um tremendo potencial revolucionário, mas sem a consciência plena do próprio poder, sem tempo diante de muitas obrigações, sem articulação suficiente para liderar os espaços de poder e acuadas diante de estatísticas estarrecedoras da violência contra elas.

Em 2014, relatório da Organização Mundial de Saúde revelou que mais de um terço das mulheres no mundo eram vítimas de agressões físicas ou sexuais, representando um problema de saúde global com proporções epidêmicas. A maior parte dos casos de agressões são de maridos ou namorados e desencadeiam problemas de saúde como contusões, ossos quebrados, complicações na gravidez, depressão e outras doenças mentais. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelou que, em 2016, o Brasil registrou quase 50 mil denúncias de estupro. Há dados do Ministério da Saúde que indicam que os registros de estupros coletivos no Brasil cresceram 224% entre 2011 e 2016, atingindo a marca de 10 por dia. Há ainda dados do Estado de São Paulo: entre janeiro e julho de 2017, apenas 15,7% dos acusados por estupro foram presos. Tudo isso é apenas um extrato da violência contra a mulher. Há muito mais para denunciar.

Mas há algo de diferente no ar. Uma bolha de revolta feminista explodiu já há algum tempo, com movimentos históricos de mulheres como Maria da Penha. E há cada vez mais vozes, antes caladas, emergindo de todos os lados para denunciar e mudar essa realidade. São “Marielles” e “Penhas” desabrochando a todo instante e tocando o mundo com um despertar emocionante de coragem e empoderamento. #SomosTodasMarielle. #SomosTodasMariaDaPenha.