Mestre Antonio Carreiro foi tirar reis no paraíso
E todos os que se lembrarem do que vou dizer repetirão que foi na tarde do Dia de São José do ano 2018 que o Mestre Antonio Carreiro (76) partiu, vítima de assassinato pelas mãos doentes de seu próprio sobrinho, José de Freitas (50), que confessou ter executado o tio num momento de surto.
Por Cacá Araújo*
Publicado 21/03/2018 08:17
Quatro facadas. De tardezinha, dentro de sua casa. Sim, quatro facadas entregaram à morte o chefe do Reisado do Sítio Serraria, Distrito Bela Vista, em Crato-CE, no Vale Encantado do Cariri, depois da chuva louvada.
Saibam também por esta boca que ele era um dos pilares da brava resistência que alicerça e transmite às novas gerações a sabedoria ancestral aqui caldeada desde os primeiros tempos do encontro de três mundos: o ameríndio, o ibérico e o africano.
Pois foi…
Seus pais, Aureliano Higino Teixeira e Maria Francisca da Conceição, no batismo lhe deram o nome Antonio Higino Teixeira.
Natural da terra que o viu tombar, casou-se moço com dona Gidô e puseram no mundo oito filhos: Fátima, Cícera, Francisco, Maria das Dores, José, Rita, Cícero e Vicente.
É deveras.
São muitos os que choram a partida do Mestre Antonio Carreiro, que nesta altura da história já deve estar ao lado dos mestres Carnaúba, Zé Gato, Walderêdo Gonçalves, Chico e Antonio Aniceto, Britinho, Bidu, Dedé de Luna, Mãe Celina, Zé de Matos, Bigode, Joaquim Mulato, Correinha, Eloi Teles e tantos outros e outras, cuja luz ainda faz brilhar espadas, soar pífanos, bater jucás, disparar bacamartes, riscar xilogravuras, queimar lapinhas, cantar coco, versar cordel… e brincar reisado!
E foi assim mesmo, do modo como se disse, que o mestre passou a coroa a seu contramestre e deitou pisada no rumo da onde nasce o encantamento.
Pois creiam: nunca mais foi visto neste trecho que fica em riba da terra e debaixo do céu…
“Eu já estou de retirada,
É madrugada,
Dou lembranças aos senhores.
Sinto uma dor,
Dono da casa,
Até para o ano se eu vivo for.
Adeus, boa sorte para todos,
Eu já me vou,
Já vou me retirar.
Tenho saudades dessa noite tão bonita,
E meu coração palpita
Que eu não posso tolerar.” (Antonio Nóbrega)