Grupo fascista tenta, mas não consegue impedir caravana de Lula no Sul

A direita conservadora gosta de discursar dizendo que manifestações impedem o direito de ir e vir. No entanto, a carava do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido alvo da campanha de intolerância e ódio. Motivados pela ação de donos de fazenda, grupos impediram que o ex-presidente tivesse acesso à cidade de Passo Fundo, obrigando a caravana a desviar o caminho.

Lula - Ricardo Stuckert

A ação, no entanto, não impediu que o ex-presidente conclui-se a sua viagem. Na noite desta sexta (23), mais de 15 mil pessoas ocuparam o centro de São Leopoldo onde Lula puxou versos do cantor Teixeirinha. A música era Gaúcho de Passo Fundo. Ele arrematou: “…e trato todo mundo com o maior respeito”. “Não é assim? Era só isso que eu queria cantar lá hoje”.

Lula criticou a campanha de “raiva e ódio” que estariam estabelecidos na sociedade brasileira por parte de setores da direita.

“Será que eles não aprendem a jogar o jogo democrático? Eles acham que são bons? Ora, disputem as eleições. Coloquem um monte de candidatos e elejam. É o [Michel] Temer (MDB)? Que seja o Temer, não tem problema. É o [Geraldo] Alckmin (PSDB)? É o Bolsonaro (PSL)? Não tem problema. Só não pode ser a Manuela [D’Ávila, PC do B] e o [Guilherme] Boulos (Psol) que nós vamos estar juntos em algum momento. Indiquem quem quiserem e vamos para a disputa”, alfinetou Lula.

Lula ironizou também o local onde vai encerrar a sua caravana na região Sul do país. “Vou terminar minha caravana na Boca Maldita, no centro de Curitiba. Vou fazer isso porque aprendi desde pequeno: quem não deve não teme. Quem é honesto, não baixa a cabeça”, disse ele se referindo à capital onde o processo da Lava Jato contra ele teve origem.

De acordo com reportagem do site Sul21, a Caravana pelo Sul começou na cidade de Sarandi, onde a comitiva passou a noite. De lá, partiram para o primeiro ato desta sexta-feira (23), marcado para as 9h30 no município de Ronda Alta. Ali, Lula, Dilma Rousseff, Olívio Dutra, Miguel Rossetto e o restante da comitiva foram recebidos por centenas de agricultores familiares e trabalhadores locais na propriedade da família Pasquetti, em um ato que tratou da situação dos pequenos e médios agricultores da região noroeste do Estado.

Após tomar café com a família anfitriã, a caravana partiu para uma parada rápida em Pontão, onde foi realizado um pequeno ato com assentados do movimento sem terra da região, um dos berços da reforma agrária no Estado – a cidade tem suas origens na fazenda Annoni, ocupada pelo MST em 1985. O encontro acabou por volta das 12h30 e a caravana deveria seguir para Passo Fundo, onde estava marcado um novo ato às 13h, na região central da cidade. Contudo, desde a manhã, uma manifestação organizada por sindicatos rurais da região bloqueava o trevo de acesso à cidade. Segundo informações da rádio Uirapuru, entre 800 e mil pessoas se encontravam no local. A Brigada Militar foi mobilizada, mas não liberou a via. Agricultores organizaram bloqueios em diversos pontos da rodovia queimando pneus. Segundo a organização da caravana, os manifestantes estavam armados com pedras preparadas para atirar nos ônibus, assim como ocorreu na passagem por São Borja e Santa Maria.

Por mais de quatro horas, os ônibus permaneceram em Pontão, no local do ato com o MST, esperando que a BM liberasse o acesso a Passo Fundo, o que não ocorreu. Por questões de segurança, decidiu-se então que o ex-presidente Lula e uma parte dos membros da caravana seguiriam de carro até Chapecó, onde pegariam avião para Porto Alegre e de lá se dirigiriam para São Leopoldo, onde se encerra a caravana no RS.

Também segundo a Rádio Uirapuru, após a confirmação de que a caravana não seguiria para Passo Fundo, os manifestantes anti-Lula organizaram uma carreata pelas ruas centrais de Passo Fundo em comemoração. Nesse mesmo momento, apoiadores do ex-presidente, que chegaram a somar cerca de 800 pessoas no centro da cidade, se desmobilizaram.

Ronda Alta

Há 30 anos Vilson Pasquetti tem uma pequena propriedade no município de Ronda Alta, onde mora e trabalha junto com outros quatro membros de sua família. Ali, eles produziam soja, milho e outros grãos. Era uma vida simples e boa, mas sentia a necessidade de “girar mais dinheiro”. Queriam entrar no ramo leiteiro. “Então eu acessei o programa Mais Alimentos, que tinha juro de 2% o ano e podia pagar em 10 anos. Adquiri assim o gado leiteiro, caminhonete, trator. Fomos adquirindo e crescendo a propriedade”, conta.

Na manhã desta sexta-feira (23), a propriedade da família Pasquetti recebeu a visita dos ex-presidentes Lula e Dilma, e da comitiva que acompanha a caravana pelo sul do País, e serviu a eles um café colonial com os produtos da agricultura familiar. “A gente nem acreditou, mas é uma alegria para a família Pasquetti receber a visita dos presidentes. Isso é uma coisa inédita”, disse.

Além da comitiva, também recebeu centenas de pequenos e médios agricultores e trabalhadores de Ronda Alta que foram ao local para ver o ex-presidente. Rui Valença, coordenador-geral da Fetraf, entidade que representa trabalhadores da agricultura familiar, lembrou que Lula esteve em Ronda Alta há 17 anos, quando fez, em 2001, uma caravana pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina para visitar justamente o trabalho da agricultura familiar.

“Dezessete anos depois, muita coisa mudou”, disse. “Mudou a paisagem, mudou a vida. Os filhos dos agricultores tiveram o direito de ir para a universidade, pelo ProUni e nas federais, inclusive os meus”, complementou Valença, que entregou ao ex-presidente um documento com sugestões da categoria para o plano de governo do PT, incluindo políticas que permitam a pequenos e médios competir em melhores condições com os grandes agricultores e com o mercado. “Não dá para largar um tubarão junto com um lambari na piscina. O que nós queremos é condições para produzir alimentos, políticas públicas, não destruir as políticas como esse governo golpista têm feito”.