Jessé Souza: “Lava Jato criou um estado de exceção”
Em entrevista ao Metrópoles, o sociólogo Jessé Souza fez uma análise da conjuntura política brasileira que, segundo ele, vive um estado de exceção. Formado em direito e sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e professor titular de ciência política na Universidade Federal Fluminense (UFF), Jessé afirma que vivemos uma espécie de contrarrevolução.
Publicado 11/04/2018 17:14
"Vivemos uma situação horrível, uma espécie de contrarrevolução no país. Os pequenos avanços sociais conquistados durante os anos de governo do PT estão sendo destruídos por aqueles que perderam espaço. O principal problema do Brasil não é a corrupção, é a desigualdade", enfatiza o sociólogo.
Sobre a prisão do ex-presidente, ele disse que é resultado da perseguição política que Lula enfrenta. "No Brasil, a herança escravagista se transformou em ódio ao pobre", declarou. "Apesar das críticas que tenho aos governos de esquerda, não vejo nada de justiça nessa prisão. Lula está sendo perseguido porque tirou os pobres de seu lugar", acrescentou.
O pesquisador lançou recentemente e o livro A Elite do Atraso – da Escravidão à Lava Jato, que segundo fontes é o livro que Lula lê na prisão, desde o último sábado (7).Para ele, a classe média celebrar a prisão do Lula é algo irracional. "O ponto racional aí é promovido pelo mercado financeiro", frisa.
"Quem compra é o mercado. Para a produção financeira poder assaltar a população – por meio dos juros altos, da dívida pública não auditada e da isenção fiscal –, cria-se uma realidade virtual de que a corrupção é apenas da política. Uma mentira", pontua Jessé Souza.
Diferentemente do que a grande mídia afirma repetidamente, Jessé ressalta que a corrupção não está apenas no Estado ou na política.
"[O Estado] É um lacaio do mercado. Vemos isso nas malas de dinheiro que chegam aos políticos. Da onde elas vêm? Das empreiteiras, das empresas. Deve-se apurar os desmandos do poder público, mas há um grande esquema montado para imbecilizar a população e esconder os grandes ladrões", destaca.
Apesar de alardeada pela imprensa como a salvação do Brasil, Jessé afirma que a Lava Jato não tem nenhum aspecto positivo. "É um circo", disse.
"Recuperou ridículos R$ 1,5 bilhão enquanto acabou com a Petrobras e destruiu a infraestrutura brasileira. Trata-se de uma ave de rapina do Brasil, entregando o país ao mercado financeiro internacional", argumentou.
"Além disso, dentro do país, a Lava Jato criou um estado de exceção, com apoio na violência e na brutalidade. Essa operação criou uma divisão muito grande no Brasil. De um lado, os que apoiam a brutalidade e, por outro, grupos de esquerda desejando o fim da desigualdade. Essa ruptura pode levar a uma guerra civil. Apesar de ainda parecer algo distante, começam a surgir indícios disso", salientou.
Sobre o quadro eleitoral, Jessé afirma que tudo ainda é muito indefinido, mas acredita que "isso vai mudar nos próximos meses". Ele defende a unidade do campo de esquerda, caso contrário candidaturas como a de Bolsonaro podem se fortalecer.
"O Bolsonaro é filho da Globo e da Lava Jato. Esse clima de violência é fruto de uma imprensa maliciosa e venal, dessa campanha que dividiu o país e cresceu em cima dos medos e anseios da classe média", avaliou.
E conclui: "Não há candidato viável do golpe. Esse discurso de reforma da Previdência, com retirada de direitos, enfraquece qualquer político".