Papa admite erros em relação ao caso dos padres chilenos abusadores

O Papa Francisco admitiu que cometeu “erros graves” ao analisar o escândalo de abusos sexuais a menores na Igreja chilena e expressou a sua “vergonha” e “dor” depois de conhecer as conclusões da investigação

Papa no Chile - Fotos Públicas

Na carta publicada nesta quarta-feira (12), Francisco pediu às vítimas que fossem ao Vaticano, para que se possa desculpar-se pessoalmente.

“No que me toca, reconheço e quero que o transmitam fielmente, que incorri em erros graves de valorização e percepção da situação, especialmente por falta de informação verdadeira e equilibrada”, escreveu o Papa, na carta. “Peço agora desculpa a todos os que ofendi e espero poder fazê-lo pessoalmente nas próximas semanas”.

O Papa admitiu ter ofendido as vítimas dos abusos sexuais durante a sua viagem ao Chile, em Janeiro. Nessa altura, o Papa incitou as vítimas a dar provas das suas acusações ao bispo Juan Barros, que alegadamente teria conhecimento de abusos sexuais na Igreja mas escolheu encobri-los. "Não há uma única prova contra ele. São calúnias", disse o Papa em Janeiro.

Respondendo ao pedido de Francisco, uma das vítimas escreveu no Twitter que não seria possível “tirar uma selfie” enquanto estava a ser abusado “com Juan Barros parado ao lado a ver tudo", cita o El País.

De acordo com a versão das vítimas, o bispo chileno Juan Barros encobriu os abusos sexuais a menores do padre Fernando Karadima. Este era um padre influente em El Bosque, que violou pelo menos quatro jovens desde os anos 80. Os crimes foram reconhecidos pela justiça civil e eclesiástica, com uma condenação, em 2011, a “uma vida de penitência e oração”, de acordo com a AP, mas os crimes prescreveram e o padre nunca cumpriu pena. Ainda assim, foi expulso do sacerdócio.

Durante a sua visita ao Chile, insinuou-se que Francisco não conhecia a totalidade da informação sobre o caso. Por isso Francisco pediu ao arcebispo maltês Charles Scicluna, o mais respeitado investigador em casos de abusos sexuais, que as tornasse claras. Scicluna foi ao Vaticano no mês passado para contar o que descobriu.

Na carta, o Papa não detalha as conclusões do investigador, mas diz que os bispos chilenos devem “reparar o escândalo, onde for possível restabelecer a justiça”, cita a AP. Analisando os testemunhos das vítimas, o Papa percebeu que eram relatos “descarnados” do que aconteceu e que lhe tinha sido ocultada a verdade.

A carta do Papa não tem valor jurídico e o bispo Juan Barros não vai ser obrigado a retirar-se do sacerdócio. Desde 2015 que Francisco defende Barros, dizendo que as denúncias eram “calúnias” e recusou, por duas vezes, a sua demissão. O Papa tem sido criticado no Chile por manter como bispos três homens muito próximos de Karadima, que em 2011 enviaram uma carta ao Vaticano a defender o padre das acusações de abusos sexuais.