Eugênio Aragão: A psicose política tomou conta da nossa sociedade
O jurista Eugênio Aragão ex-Ministro da Justiça no governo Dilma Rousseff afirmou no programa Entre Vistas, da TVT, que, apesar do ambiente “tenebroso” que criou, a direita não tem o controle do país. “Deu o golpe instalada confortavelmente por uma mídia que lhe deu suporte, promoveu uma lavagem cerebral na sociedade e espalhou o ódio. Mas ela não tem o domínio pleno do processo social. Tanto é assim que Lula continua em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais. Nesse sentido eu sou otimista.”
Publicado 25/04/2018 13:20
Entrevistado por Juca Kfouri – ao lado da advogada e integrante do MTST Débora Camilo e de Aline Mattos, também advogada e defensora dos direitos humanos –, Aragão defendeu que o clima de crise social e política brasileira não se dá por acaso, mas está conjugado com interesses muito além da “esquerda alfafa” representada pela senadora Ana Amélia (PP-RS), que acusou a senadora Gleisi Hoffmann de “convocar o Exército Islâmico a vir ao Brasil proteger o PT”.
“É um cenário tenebroso. A construção desse cenário não foi obra dessa direita ‘alfafa’. É um cenário de inteligência, de estimular o caos no país, o caos comunicativo. O tecido social está fortemente corrompido com esse ambiente pesado do país, e isso não é obra do acaso, não é algo espontâneo.”
Para ele, com o domínio de “metadados” e de tecnologia de rede, junto aos meios de comunicação social nas mãos, é possível estimular “processos que vão para a psique do cidadão”. “Eu acho que nossa sociedade está psicótica. A psicose política tomou conta da nossa sociedade, e isso é uma coisa provocada.”
Para o ex-ministro, o ambiente crescente de intolerância é disseminado no país principalmente a partir de 2013. “O ódio tomou conta até dos laços familiares, dos laços de amizade.”
Fazendo uma autocrítica, Aragão afirmou que os governos do PT subestimaram a capacidade de mobilização das forças por trás desse processo social e midiático. “Nossos governos não se preocuparam em montar uma estrutura de inteligência e contra-inteligência. Era algo que a gente tinha condições de antever no mais tardar no início de 2013.” Para ele, “os Estados Unidos são useiros e vezeiros em se aproveitar das contradições do estado brasileiro”.
O cenário no qual o Brasil mergulhou a partir da derrubada da ex-presidenta Dilma Rousseff e que culminou com a prisão de Lula começou a ser trabalhado pelas forças contrárias, incluindo a mídia e parcelas importantes do Ministério Público e sistema de Justiça, no já esquecido caso Waldomiro Diniz, em 2004, opinou. Cerca de um ano depois, explodia o “mensalão”.
“Com o episódio do Waldomiro, antes do mensalão, a gente já viu do que essa direita é capaz distorcendo fatos. Ali, a coisa estava começando a fermentar: queda do Waldomiro, escândalo dos correios, ‘mensalão’. Foram 13 anos de bombardeio”, disse Aragão.
Para ele, não há como dissociar o ambiente político de perseguição do corporativismo do Ministério Público e do Judiciário, aliados de forças conservadoras e respaldados pela mídia, ao longo de uma década e meia. Exemplo significativo da “combinação” dentro do Judiciário pela perseguição a Lula é a atitude do TRF-4 ao confirmar a sentença de Sérgio Moro. “Apesar de tanta atuação temerária do juiz, não há nenhum tipo de divergência entre os desembargadores (do tribunal). É um jogo muito rasteiro.”
Em 2005, com o ambiente político obscuro, segundo ele, Lula teve uma reação política de acordo com a situação: a opção do ex-presidente pela aliança com o PMDB de José Sarney, muito criticada por setores à esquerda do PT, mas que era um lance que ao mesmo tempo estava de acordo com o chamado presidencialismo de coalizão e era, já na época, uma questão de luta pela sobrevivência no tabuleiro político.
“A aliança do Lula com o PMDB só aconteceu por causa do mensalão, porque ele sabia que, se não fizesse, ele poderia ser o que Dilma foi dois mandatos depois”, disse Aragão no Entre Vistas.
Confira o vídeo: