Os ataques premeditados de Israel contra as forças iranianas na Síria

Caças israelenses lançaram nesta madrugada o mais forte ataque dos últimos anos em território sírio. Mais de metade dos mísseis disparados foram interceptados, segundo o Ministério russo da Defesa. O intuito era prejudicar as forças iranianas, que estão na Síria para ajudar o governo do país a combater o terrorismo

ataques de Israel contra a Síria

Na quarta-feira (9), o Portal Vermelho já havia reportado ataques de mísseis israelenses contra bases militares iranianas em Damasco, capital síria, visando "um depósito de armas das milícias iranianas ou do Hezbollah libanês", segundo informações da AFP. Esses ataques de ontem foram disparados poucas horas após o anúncio proferido na terça-feira (8) por Donald Trump, sobre a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear firmado multilateralmente com o Irã.

Israel, aliado histórico dos EUA, vinha pressionando o Congresso norte-americano para que se retirasse do acordo. Além disso, seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, vinha procurando "pelo em ovo" (já que não existem provas) junto com Trump para acusar o Irã de desrespeitar o que foi acordado, mesmo após relatórios de organizações internacionais de fiscalização negarem as suspeitas.

Nessa quinta-feira (10), Israel voltou a atacar, disparando mísseis contra dezenas de alvos militares iranianos na Síria, firmando esse como o maior ataque israelense às forças iranianas desde o inicio da Guerra Civil na Síria. Foram disparados cerca de 60 mísseis contra o território sírio.

O ministério russo da Defesa afirmou que mais da metade desses mísseis foi abatida pelo sistema de defesa anti-área sírio. Ainda de acordo com o Ministério russo, citado pela Sputnik News, o ataque teve como alvo "posições onde estavam localizadas unidades militares iranianas, bem como posições da defesa aérea do Exército sírio no Sul de Damasco e no Sul da Síria".


Israel alega que a forte ofensiva das suas forças armadas sobre posições iranianas na Síria foi uma resposta ao disparo de 20 mísseis a partir de território sírio contra alvos israelenses nos Montes Golã – que Israel ocupa ilegalmente desde 1967. As autoridades israelenses responsabilizaram por esse ataque a Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana.

De acordo com a agência SANA, esses 20 projéteis foram disparados como resposta justamente ao ataque das forças israelenses na terça-feira (8), após o anúncio de Trump, contra bases do exército sírio e iraniano. 

Alaeddin Boroujerdi, presidente da Comissão de Segurança Nacional e Relações Externas do Parlamento do Irã, condenou o ataque israelense na Síria, lembrando que Israel começou “um jogo perigoso”, com o consentimento norte-americano. “O ataque israelense, apoiado pelos EUA, teve como objetivo desviar a atenção da opinião pública”, criticou, segundo o jornal português Público.

Boroujerdi nega as acusações sobre uma primeira agressão iraniana nos Montes Golã e diz “estranhar” as reações de responsáveis europeus franceses e alemães, que nessa quinta-feira (10) pediram para que Teerã evite “provocações” na região. Qualquer resposta de Damasco, acrescenta, será justificada por “legítima defesa”. Segundo ele, a postura do Irã sempre foi pela “diminuição das tensões” na região, ao contrário de Washington, acusou, e dos seus aliados europeus e da Arábia Saudita, que “fizeram treinos militares e armaram facções” no Oriente Médio, que levaram à morte de “milhares de pessoas” e obrigaram “milhões a procurar refúgio noutros países”, termina de informar o Publico. 

As Colinas de Golã

Israel invadiu e ocupou a maior parte das Colinas de Golã durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e depois as anexou a seu território, em uma ação tida como ilegal pela comunidade internacional.

Ataques frequentes e escalada contra o Irã

Recentemente, Tel Aviv aumentou, em conjunto com Washington e Riade, a retórica hostil contra o Irã, ameaçando proceder com ações militares contra o país persa e tentando alimentar a campanha de que o Irã estaria violando o acordo nuclear assinado em 2015- do qual Trump já retirou os EUA, mesmo sem provas cabíveis das acusações contra o Irã. 

O apoio de Tel Aviv, tal como o de potências ocidentais e regionais, a grupos terroristas na Síria tem sido reiteradamente denunciado pelas autoridades deste país para as Nações Unidas. As ações militares israelenses contra posições do Exército sírio no país árabe são frequentes.

Os soldados iranianos, ao contrário das tropas norte-americanas, estão em território sírio a pedido do presidente Bashar al-Assad, para combater os terroristas no país e reforçarem as forças governamentais durante a Guerra. O Irã, assim como a Rússia, é um aliado da Síria. Israel, aliado histórico dos Estados Unidos, considera a presença permitida do Irã na Síria como um "entrincheiramento militar". Só nos últimos meses, os israelenses realizaram várias ações militares contra instalações iranianas, entre eles o ataque de mísseis contra uma base aérea iraniana na Síria em abril que matou sete membros da Guarda Revolucionária.

O ministro da Defesa de Israel (aquele que ficou conhecido por querer premiar soldados israelenses que usaram de extrema violência para assassinar manifestantes palestinos na Faixa de Gaza), Avigdor Lieberman, declarou que os ataques dessa quinta (10) foram para impedir a consolidação de uma frente inimiga em suas fronteiras.

Na realidade, existe um motivo para Israel se incomodar tanto com o Irã. O país, que antes era a única potência do Oriente Médio, não gosta da ideia de estar perdendo sua influência para o Irã, que agora também é uma potência, com força muito próxima a da Israel. Ai pode estar um motivo para Israel não atacar diretamente o Irã, mas tranformar a Síria, já desgastada pela guerra, no seu campo de batalha contra o país persa. Além disso, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao reunir todos as suas forças para "combater" o Irã, desvia a atenção de problemas internos preocupantes, como fortes denúncias de corrupção contra seu governo.