Trump cancela esperado encontro com Kim Jong-un

O presidente norte-americano, Donald Trump, cancelou o encontro com o líder da Coreia Popular, Kim Jong-un, agendado para 12 de junho. O anúncio foi feito em uma carta divulgada pela Casa Branca nesta quinta (24)

Donald Trump

Na mensagem, Trump faz ameaças contra a Coreia Popular, retomando seu tom de ameaça que prevaleceu até ambas as Coreias começarem a se aproximar e a restabelecer o diálogo (e que na realidade nunca deixou de existir). Mais uma vez, Trump ameaçou citando a capacidade nuclear dos Estados Unidos.

Trump cancelou o encontro logo após a Coreia Popular implodir os túneis do campo de teste nuclear de Punggye-ri, localizado no nordeste do país, e anunciar oficialmente sua demolição. Esse ato foi estava sendo interpetado pelos analistas como um gesto para reduzir a tensão na península coreana e criar a possibilidade de uma cúpula com os Estados Unidos, além de demonstrar a boa vontade de Pyongyang em querer alcançar um acordo definitivo de paz.

Pyongyang desmontou completamente sua instalação de testes nucleares “para garantir a transparência da descontinuidade dos testes nucleares”, relatou a KCNA, agência norte-coreana. “A descontinuidade dos testes nucleares é um processo importante em direção ao desarmamento nuclear global”, disse a KCNA. A medida, contudo, não significou que Pyongyang aceitaria as pressões norte-americanas para que abdicasse unilateralmente de seu arsenal de bombas nucleares e mísseis balísticos, enquanto os EUA trabalhar para avançar cada vez mais com a pesquisa e facilitem o uso de armas nucleares.

"Infelizmente, baseado na hostilidade e na raiva expressadas em seu comunicado mais recente, sinto que é inapropriado, neste momento, realizar essa reunião", disse Donald Trump na carta que cancelou a cúpula, nessa quinta-feira (24). A "hostilidade" a que se refere Trump foi a classificação feita por Pyongyang de "idiota e estupido" dos comentários proferidos pelo vice norte-americano Mike Pence, que afirmou que a Coreia Popular pode acabar como a Líbia se não alcançar um acordo com Washington, que pressiona o país oriental para um desarmamento unilateral.

A Líbia, depois de ter entregado, em 2003, o seu programa nuclear e de mísseis balísticos aos norte-americanos, foi invadida em 2011 pelos EUA e países aliados da OTAN, que destruíram o país norte-africano e o mergulharam no caos.

Antes disso, Pyongyang também havia manifestado irritação devido a manobras militaers conjuntas que foram realizadas pelos Estados Unidos e pela Coreia do Sul (após a assinatura do tratado para promover a paz entre as Coreias), chamados Max Thunder, que envolveram uma centena de aeronaves, incluindo bombardeiros estratégicos B-52, além de cerca de 1.500 soldados. Após esse episódio, veio a declaração de Pence. 

Reações de preocupação

Logo após a carta de Trump dessa quinta (24), o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que teve como proposta destaque em sua campanha se reaproximar do Norte, reuniu o seu gabinete de crise. O porta-voz de Moon, Young-chan, informou que o Presidente sul-coreano convocou de urgência o ministro das Relações Exteriores, da Defesa e os seus mais altos responsáveis de segurança assim que foi informado da decisão de Trump. Citado pela agência Yonhap, Kim Eui-kyeom, porta-voz da Casa Azul de Seul afirmou que o Governo sul-coreano está "tentando entender qual é a intenção do presidente Trump e qual o seu real significado". A paz entre as Coreias, objetivo que parece caro para Seul e para Pyongyang, não aparenta ter a mesma importância para os Estados Unidos, ou pelo menos não ser de seu interesse. 

O governo britânico declarou estar desapontado com o cancelamento da reunião. O secretário-geral das Nações Unidas, Antônio Guterres, admitiu estar preocupado: “estou profundamente preocupado com o cancelamento do encontro em Singapura entre o presidente dos Estados Unidos e o líder da República Popular Democrática da Coreia”, afirmou aos jornalistas na Universidade de Genebra, apelando ainda para todas as partes para “encontrarem um caminho para a desnuclearização pacífica e verificável da Península da Coreia”.