Visibilidade: 1ª Marcha do Orgulho Trans ocupou Arouche, em SP

O Brasil é o país que mais mata travestis, transexuais e transgêneros com uma pessoa assassinada a cada 48 horas. Em 2017, foram 185 mortos, maior número já registrado pelo observatório de violência trans. Os dados são do Dossiê: A carne mais barata do mercado, lançado no início deste ano, com dados do Observatório da Violência, mantido pelo site Observatório Trans.

1ªo marcha do orgulho trans no largo do arouche em sp dia 2 de junho de 2018 - Paulo Pinto/ Fotos Públicas

Nesses seis primeiros meses de 2018, o país já contabiliza 71 assassinatos. Neon Cunha, mulher trans e ativista afirma que a 1ª Marcha do Orgulho Trans, ocorrida no centro da capital paulista, ajuda na disputa da sociedade para que as pessoas trans sejam vistas como pessoas com direitos, inclusive o direito à vida.

"Porque simplesmente a nós [pessoas trans] não é conferida a condição de humanas. Então, não dá para falar de alteridade e empatia quando nós não somos humanas".

A luta contra a invisibilidade e marginalização pautou inúmeras falas de homens e mulheres trans durante a marcha, que ocorreu no Largo do Arouche. Verônica Valentino, travesti e atriz, falou sobre a simbologia da Marcha partir desse lugar. "Um lugar onde várias foram exterminadas, várias morreram".

A necessidade da sociedade naturalizar e não estigmatizar a presença de corpos trans no espaço foi o ponto apontado por Jhulia Santos, travesti e arte ativista de Belo Horizonte, como um dos mais urgentes para a comunidade trans. Ele conta também como a luta das pessoas trans precisa levar em consideração a intersecção com outras pautas como a questão de classe e o racismo. "Além de travesti eu sou negra, e minha cor é o que chega primeiro e esses espaços sociais não foram pensados para mim também enquanto negra".

Além de pessoas trans, a marcha estava repleta de pessoas cisgêneras, ou seja, pessoas cujo gênero é o mesmo que o designado em seu nascimento havendo uma concordância entre a identidade de gênero de um indivíduo com o gênero associado ao seu sexo biológico e/ou designação social.

Muitos pais e crianças acompanharam a marcha como Carla Patrícia, mãe de uma mulher trans que se tornou militante da causa na cidade de Bauru/SP e criou o Grupo Nacional Mães Pela Diversidade. Ela destaca o quanto é essencial os pais se engajarem na luta.

"Essa marcha hoje tem uma importância muito grande porque isso é visibilidade, é a transformação de uma sociedade. A gente luta de forma diária porque não é só a trans, o trans, a lesbica e o gay, mas toda mãe e pai que apoia esse filho".

Depois de percorrer a Avenida São João, a marcha voltou ao seu ponto de partida no Largo do Arouche e contou com mais falas políticas e atrações musicais com a Mulher Pepita, Leona Vingativa, MC Dellacroix, Tiely Queen, Erick Barbi, Liniker, Johnny Hooker e a DJ Ledah Martins.