Livro Rosas Vermelhas, de Renato Dias, será lançado em Goiânia

O livro ‘Rosas Vermelhas – Mulheres, Luta Armada, Tortura, Desaparecimento, Exílio Forçado’, do sociólogo Renato Dias, será lançado nesta segunda (11), às 18h, na Assembleia Legislativa de Goiás.

Livro Rosas Vermelhas - Foto: Reprodução

Revolucionária, Zilda Paula Xavier Pereira teve dois filhos executados a sangue frio. Iara Xavier Pereira sofreu a dor da morte do marido e do exílio. Walderês Nunes Loureiro viu o marido ser assassinado e a pri­são de José Júlio. Dagmar Pereira da Silva fugiu de avião com Dom Tomás Balduíno. Maria Rosa Leite, mãe de Honestino Guimarães, e Maria de Campos Baptista, genitora de Marcos Antônio Dias Batista, queriam enterrar seus filhos. Isaura Lemos conta a sua aventura revolucionária: de 1968 a 1985. Jane Vanini morreu em 1974, no Chile. Uruguaia, Maria Cristina Castro relata o horror

Bravura feminina

Nascida em Pernambuco, radicada no Rio de Janeiro, integrou o PCB e fundou a ALN, Ação Libertadora Nacional. Guerrilheira urbana, acabou presa, torturada e fugiu de um manicômio. O Pinel. Depois, embarcou para Cuba. Ela viveu um tórrido romance com Carlos Marighella. O carbonário baiano, filho de um italiano com uma negra da etnia Haussá, deputado federal constituinte, em 1946, autor do ‘Minimanual do Guerrilheiro Urbano’, morto em 4 de novem­bro de 1969, na Alameda Casa Branca, São Paulo, capital. É a história de uma mulher além do seu tempo: Zilda Paula Xavier Pereira. Um dos 13 perfis que compõe o livro ‘Rosas Vermelhas – Mulheres, Luta Armada, Tortura, Desaparecimento, Exílio Forçado’ [Junho de 2018], RD Comunicações Ltda., de autoria do jornalista, sociólogo, pós-graduado em Políticas Públicas e mestre em Direito e Relações Internacionais, Renato Dias. Ele será lançado, nesta segunda-feira, de 18h às 22h, na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, Goiânia, no Hall de Entrada.

Iara Xavier Pereira ingressou cedo na luta de classes no Brasil. Dois de seus irmãos foram executados, a sangue frio, pelos agentes da repressão. Da ditadura civil e militar [1964-1985]. Iuri Xavier Pereira e Alex Xavier Pereira. Em um curto espaço de tempo. A sua cara-metade, o militante revolucionário Arnaldo Cardoso Rocha, também foi assassinado. Acuada, em 1973, ao lado de Fausto Jaime, estudante de Medicina da Universidade de Brasília [UnB], um quadro legal da ALN, embarcou para o Uruguai. Depois, para o Chile. Sob a presidência do socialista, o médico Salvador Allende. Antes do bombardeio do Palácio de La Moneda, ela viajou para Ha­va­na, Cuba. Lá nasceu o seu filho Arnaldo Xavier. Antes da aprovação da Lei de Anistia, ocor­rida em 26 de agosto de 1979, retornou ao Brasil. Para deflagrar a busca incansável pelos corpos dos mortos e desaparecidos políticos. Ainda sob a ditadura civil e militar. Uma noi­te longa, que durou exatos 21 anos. Utópica, a sua aventura revolucionária é narrada na obra.

Amelinha Teles foi presa em 1972. Em São Paulo. Com César Teles e Carlos Nicolau Danielli. Os três eram quadros do PC do B. O Partido Comunista do Brasil. Uma dissidência de fevereiro de 1962 do PCB. O Par­tido Comunista Brasileiro, controlado a mão-de-ferro pelo Cavaleiro da Esperança Luiz Carlos Prestes. À esquerda. Com opção pelas armas. Tanto que detonara a Guerrilha do Ara­guaia [1972-1975]. Sob a inspiração da Guerra Popular Prolongada. De Mao-Tsé-tung. Torturados na DOI-ODI, ‘A Casa da Vovó’, como a define o jornalista Marcelo Godoy, viram a morte do camarada Carlos Nicolau Danielli. O operador das violações dos direitos humanos era Carlos Alberto Brilhante Ustra. Raptados na casa dos pais, os filhos Janaína Teles e Edson Teles acabaram levados para o centro de horrores. Com quatro e cinco anos de idade, ob­servaram a cena dos pais marcados pelas sessões intermináveis de torturas. Um com o cor­po roxo. Outro, verde. Crimes de lesa-humanidade. Imprescritíveis. Pelo Direito Internacional.

Irmã de Amelinha Teles, Crimeia Schmidt, estudante de Enfermagem presa e fichada no Congresso Clandestino da UNE, que caiu, em 13 de outubro de 1968, em Ibiúna, São Paulo, por determinação do Comitê Central do PC do B embarcou para a região do Araguaia. Grávida, teve de retornar a São Paulo. Ela seria o elo do campo com a cidade. Tempos sombrios aqueles. Caiu, em 1972. Torturada, teve o filho na cadeia. No PIC. O Pelotão de Investigações Criminais. Em Brasília, a capital da República, sob Emílio Garrastazu Médici. Antes de deixar o cárcere, sofreu ameaças do general Antônio Bandeira. O seu marido integra a lista oficial dos desaparecidos políticos do Brasil. Tanto do Projeto Brasil Nunca Mais, organizado por Dom Pau­lo Evaristo Arns e o reverendo Jaime Wright, quanto da Comissão nacional da Verdade, cria­da em 2012, por Dilma Vana Rousseff, e encerrada em 10 de dezembro do ano de 2014. Ela é uma das integrantes da Comissão Nacional de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos

Maria Rosa perdeu o marido, em 1968. Brasília. Em um acidente automobilístico. Depois, morreu a sua filha adotiva. Presidente da UNE, Honestino Monteiro Guimarães, estudante do curso de Geologia da UnB e nascido em Itaberaí, Goiás, desapareceu em outubro de 1973. Militante da Ação Popular Marxista Leninista, a AP-ML, devastada pela delação de um cachorro, militante que passa a colaborar com a repressão política e militar, nunca teve os seus restos mortais encontrados. Cruel, a caserna informou-lhe que o seu rebento estaria preso em Brasília e que ela poderia visitar-lhe no Natal de 1973. Não havia ninguém com o seu nome. A tristeza lhe consumiu. O general Golbery do Couto e Silva havia lhe prometido repassar informações do paradeiro do dirigente estudantil. Nunca mais a encontrou. Depois, morreu Norton Guimarães. Irmão de Honestino Guimarães. A mãe coragem acalentava a humana ideia de sepultar os despojos do filho. Morreu antes de realizar o seu último sonho.

O menino que a ditadura civil e militar no Brasil matou. É a vida trágica contada em detalhes por Maria de Campos Baptista, assistente social, no livro ‘Rosas Vermelhas – Mulheres, Luta Armada, Tortura, Desaparecimento, Exílio Forçado’. O seu filho Marcos Antônio Dias Batista, de apenas 15 anos de idade, estudante do primeiro ano do Científico para Medicina do tradicional Colégio Lyceu de Goiânia, participara de um Congresso Nacional Clandestino da UBES, em 1968, na cidade de Salvador, Bahia, integrou a Frente Revolucionária Estudantil, a FRE, e morreu como guerrilheiro urbano da Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares, dirigida, no Brasil, por Carlos Franklin da Paixão Araújo, Antônio Roberto Espinosa e Dilma Vana Rousseff. Jovem, caiu em maio de 1970. O principal suspeito por sua prisão e execução é o capitão do Exército Brasileiro Marcus Antônio de Brito Fleury, à época diretor regional da Polícia Federal, superintendente do Dops [GO], chefe regional do SNI, e apontado no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, de 10 de dezembro de 2014, como ‘torturador’.

Uruguaia, sindicalista, Maria Cristina Uzlengui Rizzi ou Maria Cristina Castro, deixou Monte­vidéu, radicou-se no Brasil, acabou presa, ao lado de Tarzan de Castro, seu marido, sob a acu­sação de pertencer à Ala vermelha, grupo revolucionário de luta armada contra a ditadura civil e militar no Brasil. Torturada, parou na Torre das Donzelas. Ao lado de uma estudante de Eco­nomia da UFMG e dirigente da VAR – Palmares, Dilma Vana Rousseff. Levada de forma clandes­tina para o Uruguai, ela saiu da cadeia em 1972 e refugiou-se, no Chile, que inaugurara a via-pacífica para o socialismo. Com o golpe civil e militar de 11 de setembro de 1973, transferiu-se para a Europa. Com a aprovação, no Congresso Nacional, da Lei de Anistia, retorna ao País. Ano: 1979. Com Tarzan de Castro teve dois filhos: Gregório de Castro, em homenagem a Gre­gório Bezerra, ícone do comunismo no Brasil, e Luana de Castro. A ativista trabalhou no Gover­no Federal com Dilma Rousseff e na gestão do prefeito do PT, Paulo Garcia, em Goiânia [GO].

Dom Tomás Balduíno a levou, em um avião de pequeno porte, para São Paulo. Depois, com o auxílio do dominicano Airton da Silva, seu irmão, embarcou à fronteira do Brasil. O cami­nho era Santiago, Chile. De Salvador Allende. Ela conheceu – no País fraturado pelas conspira­ções das direitas, das classes médias fascistas, com panelaços, greves de caminhoneiros e locautes, e a desestabilização promovida e financiada pelos EUA – o guerrilheiro urbano da VPR [Van­guar­da Popular Revolucionária], de Carlos Lamarca, o ‘Capitão da Guerrilha’, Armando Au­gus­to Vargas Dias. Com o golpe de Augusto Pinochet, os dois foram para a Bélgica. Velho Mundo. Entre o amor e a revolução nasceu Luisa Dias, apátrida então, hoje jornalista concei­tua­da, em Goiás. É a história de Dagmar Pereira da Silva. O seu irmão Athos Pereira da Silva exilou-se na Bélgica. É jornalista. Hamilton Pereira da Silva amargou cinco anos de prisão. Os três atuavam na ALN. De Carlos Marighella. Os três fundaram o PT. Armando Augusto Vargas Dias morreu.

Isaura Lemos Vieira executou uma missão clandestina para a Ação Popular. Exalava a flor da juventude. Já sonhava, porém, com a revolução. Logo conheceu Euler Ivo Vieira. Um carbo­nário secundarista que queria incendiar o mundo. ‘Enragé’ em 1968, o ano que não terminou, era diretor da UBES. Os dois se casaram. Depois, atuaram em São Paulo e embarcaram para o sertão da Bahia. O casal integravam o PCdoB. A AP havia se incorporado à sigla da foice e do martelo. Novo destino. O Acre. Nas selvas, nasceu Elenira Tatiana. Uma referência explícita à guerrilheira do Araguaia morta no conflito esmagado pela ditadura civil e militar. A ordem do general-presidente da República Ernesto Geisel era: – Matar! Três casamentos. Com o mesmo marido. Para fugir da repressão da ditadura civil e militar. 50 anos depois de 1968, no ano de 2018, Isaura Lemos Vieira exerce o quinto mandato consecutivo de deputada estadual e é presidente do PCdoB [GO]. Euler Ivo Vieira sonha, acordado, com um novo Brasil. Socialista.

Estudante em Belo Horizonte, Minas Gerais, ela participou das revoltas estudantis de 1968. Abaixo a ditadura! Era a sua palavra-de-ordem. ‘Seja realista. Exija o impossível’. O que que­riam os ativistas, no maio, em Paris, França. Logo, logo Arthur da Costa e Silva decreta o AI-5: 13 de dezembro de 1968. O tempo fica nublado. A entrada na luta armada parecia inevitável. A mudança para São Paulo, centro operário, também. Walderês Nunes casa-se com Eduardo da Fonseca. Os dois são da ALN. A Ação Libertadora Nacional. Ela trabalha e faz educação revolucionária em uma fábrica. Eduardo da Fonseca é assassinado. Pela repressão da ditadura civil e militar. Depois, é presa com José Júlio de Araújo, militante da organização. O ativista morre sob tortura. Após cumprir a sua sentença, retorna para BH. Década de 1970. Muda-se para Goiânia, capital do Estado de Goiás. Ela faz mestrado, conclui o doutorado, ingressa na Universidade Federal de Goiás [UFG]. Para lecionar na Faculdade de Educação. Mulher de luta.

‘Rosas Vermelhas – Mulheres, Luta Armada, Tortura, Desaparecimento, Exílio Forçado’ traz as tragédias de Inês Etienne Romeu, revolucionária da VPR, presa e torturada na ‘Casa dos Horrores’, em Petrópolis, e a única sair viva do centro clandestino. Assim como a de Jane Vanine, militante do Movimento de Libertação Popular. O Molipo, criado em 1970, em Cuba, é uma dissidência da ALN. Molipo ou Grupo dos 28. Dos seus integrantes que retornaram ao Brasil, de forma clandestina, apenas dois sobreviveram. De Cáceres, Jane Vanini morreu em 1974. Executada pela Polícia Política. Do general-presidente da República, Augusto Pinochet. Além da vida de lutas de Maria Ester Cristelli Drummond, do PC do B, viúva de João Batista Franco Drummond, morto em 16 de dezembro de 1976, na Queda da Lapa, em São Paulo. A ativista exilou-se em Paris, França. Onde mora até hoje. Depois, recebeu as duas filhas, crian­ças que estavam no Brasil, com os avós. Mulher de fibra, denunciou a Mário Soares, premier gauche de Portugal, o Massacre da Lapa. Na justiça, conseguiu obter a certidão de óbito do marido com a causa mortis: Torturas no DOI-CODI-SP. Ação do advogado Egmar José de Oliveira.

Autor

Renato Dias é jornalista, sociólogo, pós-graduado em Políticas Públicas e mestre em Direito e Relações Internacionais, Renato Dias. Neste livro, ele apresenta o perfil de 13 mulheres que enfrentaram os generais, lutando contra a ditadura e sofrendo a violência brutal dos militares.

Serviço-Lançamento
Livro: Rosas Vermelhas – Mulheres, Luta Armada, Tortura, Desaparecimento, Exílio Forçado
Autor: Renato Dias
Design gráfico: Eric Damasceno
Preço: R$ 75,00
Data: 11 de junho de 2018, nesta segunda-feira
Horário: De 18h às 22h
Local: Assembleia Legislativa de Goiás, em Goiânia