Espanha recebe imigrantes do Aquarius, rejeitados pela Itália

Após a Itália fechar seus portos ao barco Aquarius, com 629 migrantes a bordo (123 menores) resgatados no Mediterrâneo, governo Espanhol anunciou que receberá os imigrantes em seu território

barco de imigrantes Aquarius - Óscar Corral

Um barco de 80 metros, chamado Aquarius, com 629 migrantes, sendo 123 menores, é o mais novo retrato do dilema do tratamento com os migrantes pelos países europeus. O barco é da ONG “SOS Mediterrâneo” e seus tripulantes resgataram os migrantes provenientes de pelo menos seis pontos da Líbia, enquanto tentava atravessar o Mediterrâneo no sábado (10), mas foram impedidos de atracar na Itália e em Malta, ficando assim a deriva no mar por mais de 48 horas.

Isso porque, como era de se esperar, após a formação do novo governo italiano formado pelos populistas do M5E e a xenofoba Liga, de extrema-direita, a Itália deixou claro que fecharia seus portos aos barcos das organizações não governamentais que realizam operações de socorro. Matteo Salvini, líder da Liga e agora ministro do Interior disse, referindo-se aos imigrantes: “Acabou o recreio para os clandestinos. Façam as malas e partam". Salvini disse ainda em caixa alta no twitter no domingo(10): “agora existe quem diz não #fechemos os portos".

Diante do fato, o novo primeiro-ministro espanhol do Partido Socialista e Operário da Espanha, Pedro Sánchez, abriu o porto espanhol de Valência para “evitar uma tragédia humanitária”. Ocorre que quando a decisão foi tomada o percurso para chegar a Valência seria grande demais e impossível pela quantidade de pessoas a bordo, falta de combustível, comida, suprimentos e poucos médicos a bordo (grávidas e crianças embarcadas). Portanto, agora os migrantes serão retirados do Aquarios por barcos italianos e transferidos para outras embarcações para serem levados à Espanha. A Itália disponibilizou-se para levar comida e medicamentos ao Aquarius.

A Itália foi uma das maiores responsáveis pela desestabilização e desfiguração da Líbia no período recente.


Membros de SOS Mediterranée resgatam migrantes na noite deste sábado. Foto: Óscar Corral

O navio de resgate, que zarpou de Catânia (Sicília) na sexta-feira (8), viveu no domingo (10) uma intensa madrugada, com vários resgates em frente à costa da Líbia. Até 229 pessoas tiveram de ser socorridas por dois botes no meio da noite. Uma das embarcações partiu, e 40 migrantes foram retirados da água por colaboradores das organizações Médicos Sem Fronteiras e SOS Mediterranée. Outros 400 resgatados foram levados por barcos mercantes e da Marinha Italiana.

O conflito aberto pela Itália, que já conseguiu frustrar a reforma do Regulamento de Dublin e ameaça expulsar 500.000 imigrantes irregulares, tenta agora pressionar a União Europeia (EU) para que a alivie do peso dos últimos tempos: 630.000 desembarques em cinco anos.

Valência se prepara

A vice-presidente do governo valenciano, Mónica Oltra, adiantou que a Cruz Vermelha já preparou a recepção aos imigrantes transportados pelo navio Aquarius. As 629 pessoas que viajam no navio estão numa situação “limite”: entre elas há mais de 120 crianças e mulheres grávidas, que estão vacinadas e têm alimentos para 24 horas, disse Mónica Oltra em declarações à cadeia de televisão SER.

A vice-presidente do governo valenciano explicou que a Cruz Vermelha vai ficar encarregue, dada a sua experiência, do dispositivo de acolhimento dos imigrantes durante as primeiras horas e os primeiros dias, estando já a ser preparadas camas e alimentos necessários após o desembarque no porto.