Após 4 meses de intervenção, violência e tiroteios aumentam no Rio

De acordo com o Observatório da Intervenção Federal, os tiroteios aumentaram 36% durante os quatro meses de intervenção federal no Rio de Janeiro. Diante de dados que demonstram o aumento da letalidade violenta, especialistas da área de segurança pública criticam a estratégia de enfrentamento que vem sendo reforçada durante a intervenção.

intervenção militar no Rio de Janeiro - LEO CORREA (AP)

Em balanço apresentado neste sábado (16), dia em que o decreto presidencial completa quatro meses, o Observatório da Intervenção Federal, vinculado ao Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, da Universidade Cândido Mendes, mostrou que os tiroteios aumentaram 36% durante esse período. Os dados são da plataforma de monitoramento Fogo Cruzado, que contabilizou 3.210 tiroteios nos últimos quatro meses, enquanto que nos quatro meses anteriores à intervenção o laboratório registrou 2.355 ocorrências. 

A intervenção federal completou quatro meses e a última pesquisa sobre a opinião a dos moradores da cidade do Rio é do final de março, do instituto Datafolha. Na ocasião, 76% dos cariocas apoiavam a atuação do do Exército, mas 71% também diziam que combate à violência continuava igual após a ida dos militares para as ruas. Naquela ocasião, o noticiário mostrava uma escalada sangrenta no Estado, com o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, tiroteios e chacinas constantes, moradores e policiais morrendo todos os dias.

Dados recentes da Secretaria de Segurança Pública do Rio — apresentados pelo próprio Braga Netto nesta sexta-feira, em evento no Rio — indicam uma melhora em alguns índices nos últimos meses, que ainda assim continuam em níveis alarmantes. As mortes violentas caíram de 636 em março para 575 em maio, uma queda de 9,59%; os roubos de veículos passaram de 5.358 para 4.382 no mesmo período, uma queda de 18,21%; os roubos de carga foram de 917 para 752, uma queda de 17,99%; e os homicídios dolosos, de 503 para 419, uma queda de 16,70%. Os únicos dados que pioraram recentemente são os relativos a homicídios decorrentes de intervenção policial, que subiram de 109 para 142 entre março e maio, um aumento de 30,27%; e a roubos de rua, que subiram de 11.182 para 11.861, um aumento de 6,07%. Especialmente este último dado contribui para uma percepção negativa sobre a segurança do Rio.

Mas se comparamos a soma dos números de março, abril e maio de 2018 com a soma dos números desses mesmos meses em 2017, chegamos a um cenário mais estático: as mortes violentas cresceram 3,7% de um ano para o outro; os homicídios dolosos aumentaram 2,79%; as mortes por confrontos por policiais aumentaram 17,3%; os roubos de veículos caíram apenas 0,06%; os roubos de carga descenderam 16,11%; e os roubos de rua tiveram uma queda de 4,8%.
Os dados sobre letalidade violenta vêm fazendo com que especialistas da área de segurança pública critiquem a estratégia de enfrentamento, reforçada durante a intervenção. O Observatório da Intervenção Federal vem cobrando, por sua vez, medidas significativas para combater a corrupção policial e mais transparência e prestação de contas à sociedade sobre os custos e os resultados das ações e grandes operações policiais realizadas até o momento.

Também foi só agora, quatro meses após o início da intervenção, que o interventor Braga Netto apresentou ao Governo Federal um documento de 82 páginas que detalha linhas de ação da intervenção. A curto prazo, o plano estratégico defende a redução dos índices de criminalidade e o aumento da percepção de segurança por parte da população. Como visto acima, o sucesso nessas duas frentes tem sido até o momento relativo e aquém das expectativas. Já a longo prazo, defende a reestruturação e fortalecimento das obsoletas instituições policiais, assim como uma maior integração dos órgãos de segurança.

Para que este último pilar da intervenção seja alcançado, Braga Netto depende dos 1,2 bilhão de reais liberados pelo Governo Federal em março, mas enfrenta burocracias para utilizá-lo em aquisições de armamentos, transporte e outros equipamentos. "Desde a data em que o presidente prometeu o recurso, ele chegou. Só que eu não recebo 1,2 bilhão junto com um talão de cheque e saio fazendo. O TCU [Tribunal de Contas da União] está me observando, a mim a as pessoas que trabalham comigo. Já estamos em processo de licitação de aproximadamente 40% dos valores que foram fornecidos, mas eu tenho que seguir especificando, o mais difícil é especificar o material que é comprado", disse o interventor na quinta-feira, segundo noticiou o jornal O Globo. "Nosso planejamento é que aproximadamente em setembro eu tenha concluído ou antecipado as aquisições e aí eu começo um processo de transição e legado", acrescentou.

Todavia, os dados divulgados revelam uma política de segurança pública tem se mostrado ineficaz, sem um planejamento muito bem estruturado ela produz o efeito reverso com o aumento de tiroteios, uma escalada da violência policial e sensação de insegurança intensificada nos últimos quatro meses.