À frente da ANPG, Tamara Naiz travou lutas importantes pela educação

Tamara Naiz, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), realizou seu último Congresso Nacional na presidência da entidade. Após ser eleita em 2014, ela foi responsável por travar as lutas da ANPG pela democracia e pela educação pública no país. Sua gestão foi marcada por um período difícil, mas de muita resistência. Houve o impeachment de Dilma Rousseff, a tomada do poder por um presidente ilegítimo e os desmontes promovidos pelas medidas de austeridade de Temer.

Por Verônica Lugarini

Tamara Naiz - Reprodução/Facebook

Tamara Naiz esteve à frente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) durante 4 anos e esteve presente até o 26° Congresso Nacional de Pós-Graduandos que chegou ao fim neste domingo (01). Com o tema “Em defesa da ciência, da universidade e do Brasil: o que é Público não se vende!”, o Congresso promoveu o debate e a defesa da universidade e da ciência no Brasil e reafirmou as bandeiras que têm sido defendidas durante a gestão de Tamara.

“Pós-graduandos do Brasil inteiro estão reunidos para discutir uma Universidade pública, gratuita e de qualidade para todos e todas. Juntos, podemos fazer a diferença para que a Ciência seja tratada como prioridade no país, fazendo com que tenhamos um desenvolvimento sustentável para melhorar a vida das pessoas”, disse Tamara sobre o evento em seu Facebook.

Durante a sua gestão, lutas importantes foram travadas contra a privatização das universidades, pela democracia que foi rompida no país após o impeachment de Dilma e contra os desmontes que afetam a educação e a ciência e tecnologia.

O corte de investimentos foi abissal. A ciência e tecnologia no Brasil têm sido os principais alvos dos cortes de investimentos. Desde 2016 as perdas no setor têm se agravado, o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia aprovado para representa apenas 40% do orçamento de 2013.

Para Tamara Naiz, “Temer considera investimentos como gastos e à medida que os cortes aumentam, se torna mais difícil conseguirmos retomar as conquistas científicas. Ela complementou dizendo que a população não sentirá o contingenciamento imediatamente, mas daqui dois anos, a perda nesses setores será notável”.

"Em pouco tempo, em questão de um ano, as pesquisas que acabamos de fazer se tornarão obsoletas e será necessário fazer um investimento muito maior para recuperar um pouco das perdas que estamos tendo agora”, frisou Tamara Naiz em entrevista anterior ao Portal Vermelho.
Sobre as tentativas de privatização das universidades públicas brasileiras, Tamara frisava que isso significaria o desmonte da educação de qualidade no país.

Segundo o relatório Research in Brazil, disponibilizado pela Clarivate Analytics à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), as universidades particulares não produzem nenhum conhecimento relevante no Brasil. Ou seja, o estudo desmistificou que qualquer universidade, pública ou privada, é emancipadora no âmbito do conhecimento e da pesquisa.

No ranking do relatório, a Unicamp ficou em terceiro lugar, atrás apenas da USP e da Unesp. Outro fator relevante é que os grandes empresários brasileiros não investem em pesquisa. Nas parcerias de pesquisa com empresas, a única grande empresa que investe de forma relevante em desenvolvimento tecnológico no Brasil é uma estatal, a Petrobras. Esse dado vai de encontro ao pensamento de Tamara:

“Vivemos um momento de ofensiva do neoliberalismo e das ideologias que defendem a redução do papel do Estado. Nós não podemos aceitar que a universidade seja descaracterizada e que a educação seja um serviço disponível na Bolsa de Valores porque se hoje, com esse conceito, já está fortemente na Bolsa, imagine se perdermos o conceito de educação [pública]”, finalizou Tamara.

Agora a ANPG terá uma nova presidenta Flávia Calé que é graduada em História pela UFRJ, foi coordenadora geral do DCE e atualmente, é mestranda em História Econômica da USP.
Para Tamara, “nesse momento em que nosso país está vivendo, é de fundamental importância a luta pela garantia de direitos e pela soberania da educação”, publicou Naiz em Facebook.

“Em 2018 as palavras de ordem são luta e resistência contra quaisquer retrocessos, superação da crise e construção de um novo ciclo de perspectivas para nossa gente, com a retomada do desenvolvimento sustentado e inclusivo, da democracia e da soberania nacional. Um novo projeto de desenvolvimento para o pais, onde educação, ciência e inclusão estejam no centro!”. Esse é um trecho de um artigo de Tamara que expressa não só o pensamento de Tamara, mas também a sua luta à frente da entidade durante sua presidência.