Votação do aborto ocorre na Argentina com grande mobilização

O projeto que prevê a interrupção voluntária da gravidez até a 14º semana de gestação, já aprovado na Câmara dos Deputados em junho, está agora sendo votado pelo Senado argentino. Apesar da expectativa quanto ao resultado não ser postiva, a grande mobilização pela legalização do aborto não tem volta, e o grito das ruas não será silenciado

Por Alessandra Monterastelli *

aborto Argentina

Mais da metade dos senadores expressou sua intenção de votar contra a legalização do aborto; se essa expectativa se concretizar, a votação terminará com 39 votos contra, 31 a favor, uma abstenção e uma ausência. Caso o projeto seja refutado, a pauta não poderá ser discutida novamente no Congresso até o dia 1º de dezembro, data em que se inicia um novo período legislativo. 

Organizações que integram a Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito, encheram e ocuparam as ruas ao redor do Congresso em uma grande manifestação, da mesma forma que fizeram quando o projeto foi discutido na Câmara baixa. Quando aprovado nesta última, milhares de mulheres comemoraram nas ruas de Buenos Aires usando laços verdes e gritando frases como "aborto legal no hospital". 

O projeto em discussão é muito semelhante à dos países mais desenvolvidos: livre escolha da mulher até a 14ª semana de gestação e prazos superiores se houver risco para a mãe, o feto ou se a gravidez for resultado de estupro. Algo de suma importância em um país latino-americano como a Argentina, onde estima-se que a cada ano cerca de 50 mil mulheres são hospitalizadas por complicações de abortos clandestinos. 

Durante a votação no Senado desta quarta-feira (8), a senadora Ana Claudia Almirón lembrou que, com essa lei, "não haverão mais abortos, mas menos mulheres mortas". A declaração tem embasamento: estatísticas mostram que em países onde a prática do aborto é legal, seus casos diminuíram. 

Com a grande mobilização de mulheres argentinas pela legislação do aborto, que repercutiu inclusive na imprensa internacional, grupos conservadores também se mobilizaram (ainda que de forma menos expressiva). Senadores são pressionados pelo setor religioso, ainda forte no interior da Argentina, sob ameaça de perder apoio. Esses grupos contra o aborto são liderados especialmente pela Igreja Católica e pelos evangélicos, mas também por altas autoridades do governo Macri.